São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 1996
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Cientista mostra reator não-poluente

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Prêmio Nobel de Física em 1984, o italiano Carlo Rubbia apresentou ontem no Rio um projeto que, segundo ele, poderá revolucionar a tecnologia de produção de energia nuclear.
Rubbia, 62, desenvolveu o estudo de um reator de alta segurança, que queima os rejeitos radioativos -até mesmo os de usinas nucleares tradicionais-, não agride o meio ambiente nem usa plutônio, componente de bombas atômicas.
Intitulado ARE (Amplificador Rápido de Energia), o reator de Rubbia utiliza como combustível o elemento atômico tório, abundante no Brasil.
As reservas brasileiras de tório são calculadas pelo governo federal em 1 milhão de toneladas.
Palestrante na abertura do 6º Congresso Geral de Energia Nuclear, aberto ontem no hotel Glória (zona sul do Rio), Rubbia apresentou dados comparativos entre o tório e fontes usuais de energia.
Segundo o físico, 1 kg de tório produz a mesma energia que 250 kg de urânio. Uma tonelada de tório equivaleria a 14 milhões de barris de petróleo.
"As reservas de tório no Brasil são suficientes para garantir 130 anos de toda a energia consumida hoje no mundo." O cientista desenvolve há três anos o projeto de reator nuclear à base de tório. Ele disse que realizou em Genebra (Suíça), com sucesso, experimentos em protótipos reduzidos.
Rubbia previu de cinco a seis anos para a montagem de uma máquina em condições de funcionamento. Ele disse que há entendimentos com o governo da Espanha, para a instalação de uma planta industrial em Zaragoza.
Uma das vantagens citada pelo cientista é que o ARE não produz plutônio, elemento derivado do urânio introduzido em reatores convencionais. O plutônio é usado em armas nucleares.
O armazenamento dos rejeitos de plutônio originários da produção é um dos grandes problemas de países abastecidos por energia nuclear. A sobra costuma ser enterrada, mas a vigilância de ambientalistas atrapalha a instalação de novos depósitos.
O reator projetado por Rubbia também é capaz de produzir água a partir da dessalinização do líquido captado em oceanos.
O risco de acidentes nucleares é reduzido, segundo Rubbia. A máquina teria mecanismos de segurança que impediriam a repetição de vazamentos como o de Tchernobil (ex-União Soviética, na década passada).

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