São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 1996
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Investidores recebem mal emissão de bônus do Brasil

Preços dos novos títulos caem 0,76% após o lançamento

CLÁUDIA TREVISAN
DE NOVA YORK

O mercado internacional reagiu de forma negativa à emissão de bônus globais pelo Brasil ontem. No primeiro dia de negociação, o papel caiu 0,76% desde a sua emissão, que ocorreu às 11h no horário de Nova York (14h no Brasil).
A avaliação dos analistas de mercado foi de que a captação ocorreu em um momento ruim, em que os investidores estão retraídos em relação a economias emergentes.
Além disso, a remuneração oferecida pelo Brasil foi considerada baixa pelo mercado frente ao risco que o investimento oferece.
O bônus global (de negociação internacional no mercado europeu) foi lançado a US$ 0,99857 por dólar de valor de face. No final da tarde, o título era cotado a US$ 0,991 (queda de 0,76%).
No lançamento, o "spread" (sobrepreço) era de 2,65 pontos percentuais sobre a remuneração das Letras do Tesouro dos Estados Unidos de mesmo prazo (cinco anos). Perto do fechamento do mercado, ele já estava próximo de 2,85 pontos percentuais.
Receio
A cotação do bônus global caiu logo depois da emissão, quando vários investidores venderam o papel com receio de perder dinheiro se aguardassem a evolução do mercado.
Todos os analistas ouvidos pela Folha disseram que o lançamento teria tido uma recepção melhor se tivesse ocorrido há um mês.
Nesse período, ocorreram três fatores que levaram a uma retração do mercado em relação às economias emergentes: acusações de corrupção feitas por Domingo Cavallo contra o governo argentino, queda de Alexander Lebed na Rússia e incertezas em relação ao peso no México.
Some-se a isso o fato de os investidores já terem ganho muito dinheiro durante o ano com as economias emergentes. Para eles, não era o momento de se arriscar.
Referência
A má recepção, segundo o mercado, tem um agravante. O bônus global não foi lançado para captar recursos novos, mas sim para criar uma referência internacional de juros -mais baixos- para futuras emissões do Brasil no exterior, tanto públicas quanto privadas.
Logo no primeiro dia de negociação, a cotação dessa "referência" foi jogada para baixo.
O que o Brasil quer com o novos bônus é criar uma referência que não seja vinculada à renegociação de dívida (caso dos "Brady Bonds"), e que não tenha a volatilidade desses títulos.
Há um mês, acreditava-se que o Brasil poderia lançar o título com uma remuneração de 2.2 pontos percentuais sobre os títulos do Tesouro norte-americano. Ou seja, bem menos que a taxa que o país pagou ontem e que foi considerada apertada pelo mercado.
Divulgação
Antes de fazer o lançamento, o governo brasileiro fez um esforço de divulgação do país no exterior.
Durante toda a semana passada, o diretor do Banco Central, Gustavo Franco, e o chefe do Tesouro, Murilo Portugal, realizaram uma série de encontros com investidores estrangeiros na Ásia, Europa e Estados Unidos.
Nas exposições que fizeram, Franco e Portugal apresentaram um vídeo em que o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, falam sobre a estabilidade econômica trazida pelo Plano Real.
Na mensagem que gravou para a exposição, FHC fez menção, entre outros pontos, à melhoria da distribuição de renda no Brasil e à ampliação do mercado consumidor.
Franco foi o responsável pelos encontros nos EUA e Portugal falou com investidores em Seul (Coréia) e Hong Kong. Na sexta-feira, os dois se encontraram em Londres.

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