São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 1996
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Além da escrivaninha

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

O computador invadiu nossa rotina com uma floresta de "objetos" que já se tornaram mais ou menos familiares. São pastas, janelas, ícones, menus e flechas que constituem uma gramática simples, prática e até hoje vitoriosa.
Essa interface nasceu há cerca de 15 anos, num laboratório da Xerox. Popularizada pelo sistema operacional da Apple e absorvida pelo Windows, resolveu a vida de usuários comuns que não queriam ou não podiam aprender uma língua nova, a do computador.
Ela foi ocultada embaixo de uma metáfora relacionada ao trabalho, à organização e à produtividade: a da escrivaninha ou desktop.
As pastas e ícones têm cumprido perfeitamente a função de nos levar do mundo tridimensional dos objetos conhecidos ao mundo dos dados. Ela criou uma ponte de familiaridade e nos deixou à vontade, com uma reprodução de brinquedo de nossa mesa de trabalho.
Foi o que aconteceu quando o computador passou do DOS ao Windows. Em vez de uma linha de comando esperando estranhos abracadabras, ganhamos uma superfície em que podemos "mexer" com o mouse, que é uma extensão de nossas mãos.
Ela definiu também uma ideologia -computador como ferramenta de trabalho. Mas o computador cada vez mais serve para entretenimento e comunicação e passa os limites da escrivaninha.
Imagine daqui a duas ou três gerações. Quem crescer acostumado ao computador talvez já não tenha necessidade de idéias como "pastas" e "páginas" e nem se lembre do que era uma escrivaninha repleta de fichários. Talvez haja formas mais fluidas de organizar dados, que nem imaginamos ainda.
O Pad++ (http://www.cs.unm.edu/pad++/) é um projeto de interface que pesquisa exatamente esse problema. Nascido na Universidade de Nova York, substitui conceitos como janelas e ícones pelo zoom e pelas lentes. Mais próximo de uma câmera de vídeo que de uma superfície bidimensional, o Pad++ permite que se "caminhe" pelas informações de forma muito mais contínua. As lentes, ao serem escolhidas, mudam a maneira de apresentar os dados.
Por exemplo, um valor numérico pode ser apresentado como um gráfico ou como um ponteiro num contador -ou como um simples algarismo. Lentes mais sofisticadas podem traduzir um documento para outra língua. É semelhante a um programa de tratamento de imagens, que aplica filtros sobre elas, alterando cor, textura etc.
A interface do Pad++ acrescenta uma sensação de profundidade à tela do computador. Documentos e imagens aumentam, diminuem, são examinados em detalhe ou vistos no conjunto, graças ao zoom.
Os pesquisadores do Pad++ criaram também um modelo de navegador para a Internet, seguindo os mesmos princípios.
O Pad++ pode não ser a interface do futuro, mas com certeza aponta um caminho. Ele lida muito melhor com grandes volumes de dados e com o trânsito entre várias aplicações que a nossa cada vez mais atulhada escrivaninha.

E-mail: netvox@uol.com.br

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