São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 1996
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Guedes mostra sua paixão pela pintura

CASSIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Alfredo Volpi costumava fazer a distinção entre os termos pintura e assunto. O primeiro, significando a elaboração, a forma, a textura, a pincelada. Assunto seria o equivalente à temática da obra de arte.
José Guedes não tem assuntos, faz pinturas. Os oito quadros que ele expõe, a partir de hoje, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte, deixam à mostra a paixão do artista cearense pela manufatura da arte.
Em obras cheias de sutilezas, Guedes deixa subentendido seu roteiro de trabalho. Com a disciplina de quem não tem domingos, Guedes pinta incansáveis camadas de tinta sobre as telas que estende no ateliê de Aldeota, bairro de Fortaleza.
A cor da primeira "demão" de pigmento "tanto faz". Também não lhe interessa, inicialmente, o equilíbrio e a composição entre os elementos abstratos, que introduz aos poucos na pintura.
Depois de cerca de 30 camadas de tinta, "bastante diluídas para não sobrecarregar a tela", é que Guedes começa a fase de acabamento.
O artista, que começa a trabalhar as 6h30, "para apanhar a luz natural", procura com as sucessivas pinceladas criar vibrações.
Os trabalhos em exposição em São Paulo chamam, justamente, vibrações, palavra-chave da luminosidade nordestina de José Guedes.
Na Neuhoff Gallery, em Nova York, onde o artista apresenta trabalhos semelhantes, as telas ganham títulos como "Amarcord" .
"Puros pretextos", explica Guedes, cinéfilo e admirador de Fellini, diretor do filme que Guedes já assistiu nove vezes. O mais importante é a malha de vibrações, oriunda do entrelaçamento das cores.
Essa procura das nuances da cor vem da admiração de nomes como Volpi, o "mestre das bandeirinhas", o suíço Paul Klee e o russo Kasimir Malevitch.
Em 1996, José Guedes comemora 23 anos de pintura, ou melhor, de exposições. Artista, ele acredita que sempre foi.
No início de carreira, se preocupava com a pintura hiper-realista. "Gostava de pintar nus artísticos, talvez porque o tema era sedutor". Entre os anos de 82 e 83, a "pintura ganhou do tema", e Guedes começou a trajetória rumo a abstrações de grandes áreas de cor.
Recentemente, voltou dos EUA com 40 kg de pigmentos; o cabo da mala quebrou. Na "mala sem alça" que Guedes carrega para o Ceará, no sábado, está a matéria-prima do novo projeto. Vencedor do 27º Festival International de la Peinture de Cagnes-Sur-Mer, na França, salão que revelou nomes como Basquiat, Guedes volta à cidade em 98 para expor 20 pinturas.
(CEM)

Exposição: José Guedes
Quando: hoje, das 19h às 23h; seg a sex, das 11h às 19h; sáb, das 11h às 14h Onde: Mônica Filgueiras Galeria de Arte (al. Ministro Rocha Azevedo, 927, tel. 282-5292)
Preços das obras: de R$ 2.400 a R$ 3.400

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