São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 1996
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'Minha literatura não é de lugar nenhum'

DA REPORTAGEM LOCAL

Campos de Carvalho vive hoje em São Paulo. Ainda se interessa muito por livros, dizendo que acompanha a produção brasileira e especialmente a francesa, de quem se reconhece um devedor.
"Depois do período das vanguardas, a literatura não avançou nada, não criou nada desde aquele tempo, os anos 10, 20 e 30", diz o escritor.
No ano passado, a José Olympio Editora publicou em um único volume seus últimos quatro trabalhos.
Durante alguns meses, ao menos para a mídia, seu nome surgiu para um círculo maior do que seus costumeiros leitores.
Era então a volta do "escritor surrealista", um pouco por seu nome, os campos com carvalhos, que parecia também uma criação.
Acontecia o retorno do gênio desconhecido que amava a forma de seus escritos e lidava com extremo humor os temas lúgubres.
Em "A Lua Vem da Ásia" (seu segundo romance), um homem escreve um diário relatando o incomum de seus dias. No início, acredita estar em um hotel de luxo, depois uma prisão, para, no fim, indicar que se trata de um hospício.
"À noite a lua vem da Ásia, mas pode não vir, o que demonstra que nem tudo neste mundo é perfeito", escreve.
Depois surgiram "A Vaca de Nariz Sutil", "A Chuva Imóvel" e "O Púcaro Búlgaro". Este último, entendido como uma fábula de humor, sobre uma expedição para "o fabuloso reino da Bulgária" montada no Rio de Janeiro. Seu nonsense adquire um ritmo alucinante.
"Acabo de mostrar à garota aí de frente o que será o mastro do nosso futuro navio. Pareceu ter ficado realmente impressionada", escreve no romance.
"Você gosta da forma, do ritmo? É boa, não? Eu não sinto falta de escrever. O 'Púcaro Búlgaro' é o livro de que mais gosto. Prefiro o meu lado de maior humor. Eu lancei minhas obras reunidas apenas para me lembrar do que eu fazia antes."
Apesar do lançamento, não foi dessa vez que Campos de Carvalho conseguiu um mínimo de popularidade. Agora, para seu aniversário, não há nada preparado. Não há novidade, apenas os seus mesmos livros.
Continua não gostando muito de falar de si mesmo, de suas escolhas e particularidades, e reserva uma pequena, mas precisa explicação para todos os livros e, também, para seu percurso.
"Minha literatura não é de lugar nenhum. Não é da Terra. Não vem de São Paulo ou do Rio de Janeiro, o lugar onde vivi por 25 anos. Aliás, não gosto muito do Rio. Não me dou com o mar."

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