São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996 |
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Crianças burlam segurança e comem alimentos em lixão da zona norte
ROGÉRIO GENTILE
A favela Cidade das Crianças, em Perus, recorre ao aterro sanitário Bandeirantes -destino de 39,4% do lixo domiciliar produzido na cidade- para conseguir carne, arroz, feijão, salsicha, entre outros alimentos. As crianças são os principais invasores do aterro e precisam driblar os seguranças para roubar os alimentos. Para os garotos, as melhores "muambas", como chamam tudo que é trazido do aterro, são os chocolates e os pacotes de bolachas e salgadinhos. "Teve um dia, perto do Natal, que eles trouxeram caixas de sorvete. Foi uma delícia", afirmou o estudante R.G.S., 11. O estudante J.A.A.S.J., 11, afirma que costuma entrar no aterro para pegar "mistura", principalmente carne e feijão. "Eu levo para casa, a minha mãe lava e depois cozinha", diz. Invasão Às 19h30 da última segunda-feira, a Folha presenciou três garotos entrarem no aterro sanitário para pegar comida. Horas antes, o diretor do Departamento de Limpeza Pública (Limpurb), Paulo Gomes Machado, havia dito que isso não acontecia por causa do esquema de segurança mantido pela construtora Heleno da Fonseca, que opera o aterro. Pastor, 14, Tuto, 13, e Zoinho, 15, não revelam seus nomes verdadeiros porque temem ser ridicularizados na escola, que também é frequentada por alunos com melhores condições financeiras. Para entrar no lugar, eles esperam anoitecer e caminham pela mata, que fica ao lado da rodovia dos Bandeirantes e separa a favela do aterro. Eles andam abaixados para não serem vistos. Atravessam a parte esgotada do aterro, onde não é jogado mais lixo, e ficam à espreita da chegada de um caminhão carregado com alimentos vencidos de supermercados da cidade. Esperam por quase duas horas atrás de uma montanha de lixo. "A maioria dos caminhões traz lixo que não presta", afirma Pastor. Quando o caminhão é descarregado, eles correm e enchem sacolas de plástico com o que conseguem pegar -caixas de iogurte, coxinha de frango, pão de queijo, queijo prato e esfiha. Depois, correm antes que os seguranças cheguem e apreendam a mercadoria. LEIA MAIS sobre lixo na cidade na página ao lado Texto Anterior: MEC propõe sigilo de notas Próximo Texto: Cidade sofre com falta de locais para colocar suas 17 mil t diárias de lixo Índice |
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