São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996 |
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Hospital é condenado por contaminação
LUIZ MALAVOLTA
A faxineira, segundo inquérito policial, foi contaminada no hospital, em agosto de 1989, com uma transfusão de sangue. Ela morreu aos 62 anos, em 31 de julho de 1994. Segundo a escriturária Iraci de Oliveira, filha da faxineira, Terezinha foi internada na Santa Casa em 19 de agosto de 1989 para ser operada às pressas de complicações decorridas de uma úlcera. A escriturária disse que a mãe tinha sangue tipo A negativo, considerado raro. "Ela necessitou de sangue, e o hospital mandou que providenciássemos. Fui de táxi até Marília (443 km a noroeste de SP) buscar o sangue, mas quando cheguei ao hospital, descobri que ela já tinha recebido uma transfusão", afirmou Iraci. Posteriormente, a família afirma ter descoberto que o hospital havia usado sangue fornecido por um preso da cadeia de Maracaí (490 km a oeste de SP), que também possuía sangue tipo A negativo. "O hospital não fez testes nesse sangue e, por azar, o preso estava contaminado com o vírus da Aids. Houve irresponsabilidade do hospital", afirmou Iraci. A família da faxineira denunciou o caso à Polícia Civil de Assis, que instaurou inquérito. O hospital foi denunciado em 1993 pelo Ministério Público e num primeiro julgamento, ocorrido em abril de 1994, a Santa Casa foi condenada a pagar R$ 10 mil de indenização. O advogado da família, Marcos Payão, recorreu da sentença por considerar a indenização "muito baixa". O caso foi parar no Tribunal de Justiça de São Paulo. Na semana passada, a 7ª Comarca de Direito Privado do Tribunal de Justiça condenou a Santa Casa de Assis a pagar R$ 150 mil em indenização por danos morais. Memória "Minha mulher acompanhou o primeiro julgamento, em Assis, já muito doente, e sabia que o hospital seria condenado sempre. Mas não viveu para saber o resultado final, sentença que hoje comemoramos em sua memória", afirmou o aposentado Agripino Justiniano de Oliveira, marido da faxineira. A Santa Casa poderá recorrer da decisão do Tribunal de Justiça ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Segundo a família, o que mais a revoltou no caso, além de o hospital fazer transfusão com sangue sem controle de qualidade, foi o fato de ter sido escondido da família que Terezinha havia sido contaminada com o HIV. "Os médicos nada diziam a respeito. Nós suspeitamos que havia algo de errado porque minha mãe passou mal quatro meses depois de operada. Ela teve uma infecção intestinal. Foi quando um médico nos alertou e pediu exame de Aids", afirmou Iraci. Texto Anterior: Nó na língua; Torcida; Estréia com pé direito Próximo Texto: Hospital está em crise Índice |
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