São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996
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Consumo na Argentina registra queda

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

A briga entre o governo Carlos Menem e o ex-ministro de Economia Domingo Cavallo completa hoje 20 dias, e seu efeito se faz sentir no consumo, após ter afetado o movimento na Bolsa de Valores.
Segundo a Câmara Argentina de Comércio, as vendas no varejo devem cair por volta de 5% em outubro. Influenciada pela elevação dos preços e pela crise política, a diminuição nas vendas de combustíveis ronda os 30% no mês, de acordo com as projeções da federação de proprietários de postos.
"A troca de acusações afeta as decisões de investir e consumir. As pessoas ficam temerosas quanto ao futuro quando há turbulência política", disse o economista Manuel Solanet, ex-responsável pela Secretaria da Fazenda.
Por seu lado, o governo saiu em defesa da normalidade econômica.
O atual ministro de Economia, Roque Fernández, disse que os investimentos estrangeiros continuam chegando ao país.
"Os investidores internacionais conhecem as últimas notícias, mas não mudaram suas decisões de trazer capital", afirma Fernández.
As declarações do ministro foram feitas depois de seu principal assessor, Carlos Rodríguez, ter dito que "o canibalismo político de Cavallo faz subir o risco financeiro e prejudica a imagem do país".
O secretário da Indústria e Mineração, Alieto Guadagni, afirmou acreditar que a atividade industrial em outubro terá um crescimento de 10% a 12% em relação ao mesmo mês do ano passado, apesar da retração do consumo interno.
Na verdade, a exportação é o motivo da reativação industrial.
A Argentina atravessou um período recessivo a partir de março de 95, causado pelo "efeito tequila". Em agosto último, começaram a surgir os primeiros indícios de saída desse quadro. A atividade industrial e o Produto Interno Bruto (total de bens e serviços produzidos por um país) nos últimos meses sofreram um incremento.
Aproveitando a recuperação econômica e tentando abafar as manifestações da oposição, o presidente Menem se proclamou líder de uma campanha oficial contra a corrupção, exigida, aliás, pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Foi o sinal para Cavallo, que deixou o governo no final de julho, ressurgir na cena política.
O ex-ministro afirmou que os ministros Carlos Corach (Interior) e Elías Jassan (Justiça) ditam ordens a juízes federais.
Cavallo voltou a dizer que existem máfias no governo, que, segundo o ex-ministro, também não incentivaria as investigações do atentado contra a Embaixada de Israel e a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina).
Ontem, militantes e políticos da Frepaso (Frente País Solidário) fizeram um protesto em frente à sede do Poder Judiciário, pedindo isenção dos juízes nos casos que envolvem membros do governo.

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