São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996
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Horne traz sutileza da voz madura

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A maturidade refina as sutilezas da entonação, traz um novo aveludado ao timbre, uma segurança incrível na abordagem.
É esta a Marilyn Horne que os paulistanos poderão ouvir hoje, em sua segunda e última récita, na temporada do Mozarteum. Aos 67 anos, a mezzo-soprano norte-americana mantém sua voz inteira.
Em nada perdeu da prodigiosa extensão (ela começou sua carreira como soprano, um registro acima do atual), exemplificada por gravações feitas na Alemanha, nos anos 50, ou, já nos anos 80, por seu gosto pelo repertório barroco.
As 27 árias ou lieder que ela programou para cantar no Brasil vão de Haydn (século 18) a autores quase contemporâneos, como Milhaud, Falla ou Ginastera.
Marilyn Horne é no palco um corpulento objeto lúdico que parece brincar com a própria competência vocal. Abre grande sorriso ao entoar uma canzonetta de Rossini, incorpora quase imperceptivelmente a respiração ao fraseado, ao tomar Hugo Wolf como pretexto para a expressão de sua técnica.
Nas cinco peças que executou como bis, tornou-se adoravelmente histriônica com uma canção tradicional norte-americana, reescrita por Samuel Barber, e de uma sensualidade explícita no "The Man I Love", de Gershwin.
A perfeição é um atributo das deusas. Marilyn Horne quase chegou lá, com sua reverberação poderosa, com a maleabilidade delicada na busca da nota correta, com os trinados do repertório espanhol ou com a gravidade dramática de peças baseadas em temas shakesperianos.

Recital: Marilyn Horne (mezzo), com Brian Zeger (piano)
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo s/n, tel. 222-8698)
Quanto: de R$ 20 a R$ 90, no teatro

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