São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996
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BRIGA TRANSATLÂNTICA

A União Européia, que há vários meses se contrapõe aos Estados Unidos criticando a lei Helms-Burton (que endurece o embargo a Cuba) e levou a questão à OMC (Organização Mundial do Comércio), agora invoca um regulamento interno para garantir os investimentos europeus em Cuba e em outros países.
Há meses o governo dos EUA parece movido por um interesse eleitoral. Em julho, por exemplo, o presidente Clinton adiou a aplicação da lei.
Está em jogo um princípio fundamental das relações internacionais: impedir que leis internas a um país sejam aplicadas unilateralmente a outros. A lei dos EUA pretende tal extraterritorialidade e, assim, é ilegítima. Foi condenada até por Canadá e México, parceiros dos EUA no Nafta.
Mas está em jogo também uma pretensão antiga dos europeus de desempenhar um papel diferenciado no tabuleiro mundial, contrapondo-se aos Estados Unidos. Ao longo da Guerra Fria, tal pretensão estava evidentemente limitada pelo embate comum contra o comunismo.
Passada essa fase, a União Européia tem procurado firmar-se cada vez mais como uma referência alternativa de poder, tentando interferir de modo diferenciado no Oriente Médio (por exemplo, as reações recentes ao confronto com o Iraque ou a presença francesa na negociação entre israelenses e palestinos).
Curiosamente, aliás, essa não é a primeira nem a única pretensão do gênero. Já no final dos anos 80 e no começo dessa década, houve um surto de "japonismo" em que muitos imaginavam uma vitória econômica oriental quase como "vingança" contra a derrota militar.
Com o fim da bipolaridade do período pós-guerra, nada mais natural e até mesmo saudável que essa multiplicação de focos de influência econômica e política. Afinal, se a globalização é inevitável, nada garante que o melhor caminho seja o da uniformidade e menos ainda o da imposição global de um direito cuja inspiração é puramente doméstica.

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