São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
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PFL faz lobby contra o fim do tíquete-alimentação

MARTA SALOMON

MARTA SALOMON; FERNANDO GODINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Empresários do setor acenam com apoio financeiro a quem os ajudar

O PFL fez ontem um lobby explícito pela sobrevida do tíquete-alimentação, setor que movimenta cerca de R$ 6 bilhões por ano, mais do que toda a arrecadação da CPMF -o imposto do cheque- prevista para o mesmo período.
O partido realizou uma reunião da Executiva Nacional com o único objetivo de rejeitar a proposta do governo federal de substituir o tíquete-alimentação por dinheiro.
Presentes à reunião, empresários do setor insinuaram, na saída do encontro, que os políticos que defendem o tíquete-alimentação poderão contar com apoio financeiro das empresas.
"É muito bom contribuir com candidatos com idéias adequadas", disse ontem o presidente da Ticket Serviços S.A., Firmin António, ao final da reunião. "Teoricamente, é muito bom", completou.
O presidente da Assert (que representa empresas do setor), Romulo Fontes Federici, confirmou. "É um dever de todas as empresas participar das campanhas eleitorais", afirmou.
Os pefelistas alegam que a idéia do governo de substituir o tíquete-alimentação por dinheiro é o caminho para pôr fim ao benefício. Parlamentares do PSDB e do PMDB -que integram a base governista- reforçam a oposição.
A proposta faz parte do projeto de lei com mudanças no Imposto de Renda das empresas e também será aplicada ao funcionalismo público por meio de medida provisória editada pelo governo.
Polêmica
A nova arma dos pefelistas é uma pesquisa, encomendada pelas empresas que emitem tíquetes, que ouviu, na semana passada, 600 trabalhadores no Rio e em São Paulo: 72% dos entrevistados são contra o fim do tíquete-alimentação.
A pesquisa confirma o "mau uso" do benefício ao apontar 8% de desvio no uso dos tíquetes: 2% dos tíquetes emitidos são trocados por dinheiro, por um preço menor do que o valor do papel. Outros 6% são trocados na compra de produtos não comestíveis.
O secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, autor da proposta de substituir o tíquete-alimentação por dinheiro, alega que as fraudes ocorrem num percentual maior do que o admitido pelas empresas. Maciel, que participou da reunião com o PFL, não conseguiu convencer a cúpula do partido, apesar de também ser pefelista.
"É um negócio da China, que beneficia agiotas e intermediários", disse à saída da reunião. Ele chegou a admitir uma alternativa -a possibilidade de manter os tíquetes se eles puderem ser trocados por dinheiro, pelo valor do papel, nas agências bancárias.
O PFL, junto com os representantes das empresas e Luiz Antônio de Medeiros, presidente da Força Sindical, quer que as fraudes sejam contidas com o uso de "cartões inteligentes", com a memória do crédito de cada trabalhador.
A tecnologia enfrentaria problemas no país. Dos 200 mil estabelecimentos conveniados à empresa Ticket (que detém 45% do mercado), 15% não têm telefone, e 5% nem sequer têm eletricidade.
Os empresários do setor sustentam que a substituição do tíquete por dinheiro desviaria integralmente o valor do benefício para outros gastos. "É uma idéia esdrúxula querer tratar de alimentação do trabalhador com dinheiro", insistiu Firmin António.
O ex-ministro do Trabalho Arnaldo Prieto, mentor do programa e defensor da manutenção do tíquete, alega que a proposta do governo significará o retorno à marmita. "O que existe de ruim na comida caseira?", reagiu Everardo Maciel, que ainda espera vencer resistências políticas à proposta.
O líder do PSDB, José Aníbal (SP), não concorda com os argumentos do governo. O deputado Gonzaga Mota (PMDB-CE) afirma que a proposta é "politicamente insustentável".

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