São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
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Rapaz é confundido com preso e espancado

CRISPIM ALVES

CRISPIM ALVES; MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Funcionários da Detenção confundiram pedreiro com fugitivo por usar calça parecida com a dos presos

O pedreiro Celson José das Graças Silva, 23, foi espancado ontem à tarde por funcionários da Casa de Detenção após ser confundido com um possível preso fugitivo.
Silva, que está internado no pronto-socorro do Mandaqui, passava perto do complexo penitenciário no início da tarde, pouco depois do início da rebelião.
Como usava uma calça bege, acabou sendo confundido com algum dos presos, que usam uniformes da mesma cor.
Silva, que mora na Freguesia do Ó (zona norte), voltava de um serviço realizado em uma casa no Pacaembu. Ele iria depositar um cheque de R$ 600,00 em uma agência da Caixa Econômica Federal que fica perto do Carandiru.
Ele estava em uma das laterais da Casa de Detenção quando uma pessoa armada ordenou que parasse. "Levantei as mãos e outras duas pessoas me algemaram. Eu pedia calma para eles, mas eles diziam que eu era fugitivo. Eu dizia que não", disse Silva no hospital.
Depois disso, o pedreiro afirmou que foi arrastado para dentro da Casa de Detenção. "Quando passou o portão, eles começaram a me espancar." Ele disse que foi espancado por cerca de 15 minutos.
"Eu ficava gritando: calma, vamos conversar. Não tem nada a ver." Mas, segundo o pedreiro, os espancadores insistiam em dizer que ele era um fugitivo. "Aqui está o safado que estava fugindo", teria dito um dos agressores.
Silva afirma que não lembra quantas pessoas lhe bateram. "Era gente demais. Fiquei estendido no chão, e eles ficavam me chutando." Segundo ele, a maioria dos agressores não usava farda. Mas ele não lembra se algum policial militar estava envolvido.
Segundo o pedreiro, o espancamento só terminou quando um PM apareceu e olhou seus documentos. Desfeito o engano, Silva foi socorrido pelo resgate do Corpo de Bombeiros, que registrou um boletim de ocorrência no 9º DP como agressão de origem desconhecida.
O secretário da Administração Penitenciária, João de Azevedo Marques, afirmou ontem que vai investigar a participação de agentes penitenciários no espancamento de Silva.
O capitão Samuel Pizarro, do 5º Batalhão da Polícia Militar, declarou que os agentes foram os responsáveis pelo espancamento. "Os agentes levaram o cara para lá e desceram a ripa nele. Foi a minha tropa que socorreu ele."
Silva, que tem hematomas e escoriações por todo o corpo, vai permanecer em observação no hospital. "Nunca fui preso. Quem fez isso comigo deveria ser preso para aprender a trabalhar e pedir os documentos antes."

Colaborou Marcelo Godoy

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