São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morre um dos bebês gêmeos ianomâmis

Índia lutou para mantê-los

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA

A batalha da índia ianomâmi Paulina Ianomâmi pela sobrevivência de seu casal de gêmeos teve um final triste ontem. Um de seus filhos morreu ontem à tarde no berçário do Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré, em Boa Vista.
Paulina vinha lutando desde o dia em que eles nasceram. Pela tradição dos índios, quando nascem gêmeos, um deles deve ser sacrificado.
A ianomâmi conta que lutou, em sua aldeia, pelo direito de ficar com as duas crianças. Depois, teve de interná-los.
Na manhã de ontem, quando o casal de bebês ainda estava vivo, ela deu uma entrevista à Agência Folha. A entrevista foi feita com intérprete, porque a índia não fala português.
Durante a entrevista, ela pediu que o fotógrafo da Folha parasse de fazer fotografia, pois estava com medo da câmera.
Após responder algumas perguntas, Paulina começou a chorar e não falou mais. Os ianomâmis se calam, quando estão tristes.
A seguir, a entrevista:
*
Agência Folha - A senhora pretende sacrificar um de seus filhos?
Paulina Ianomâmi - Não.
Agência Folha - Pela cultura do seu povo, o sacrifício não teria de ser feito?
Paulina - Eu já falei com eles e eles concordaram em deixar os dois vivos.
Agência Folha - A senhora tem visto os bebês? Como eles estão?
Paulina - Eles estão bem. Melhoraram. Eu estou com saudades deles. (Paulina Ianomâmi começa a chorar e não responde mais às perguntas traduzidas a ela pelo intérprete).

Texto Anterior: Movimento antiviolência promete fazer "buzinaço"
Próximo Texto: Mortes no berçário podem chegar a 36
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.