São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
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Telles e Uip discutem as faces da morte

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A escritora Lygia Fagundes Telles e o médico infectologista David Everson Uip arrancaram risos e lágrimas da platéia que lotou o Teatro de Arena do Tuca, anteontem à noite, para assistir ao debate sobre "A Morte", da série "Diálogos Impertinentes".
A série, transmitida ao vivo pela TV PUC (no sistema de TV a cabo Net), é uma promoção conjunta da Folha, PUC-SP e Sesc.
Durante as duas horas do debate, falou-se da morte a partir de vários pontos de vista: médico, literário, espiritual, religioso.
Lygia Fagundes Telles disse que seu primeiro contato com a morte ocorreu na infância, quando morreu uma cachorra de sua família. "Percebi que os bichos têm o instinto da morte, assim como nós."
A escritora disse que procura transferir seu terror diante da morte para seus personagens. "Sou espiritualista, acredito na transmigração das almas, mas isso não me livra do medo físico, primário, da morte."
David Uip, que é coordenador do Programa de Aids do Hospital das Clínicas, falou sobre a experiência de lidar diariamente com a morte. "O universo da Aids faz a gente baixar a bola e tomar consciência dos limites da ciência e dos nossos próprios limites."
Eutanásia e suicídio foram alguns dos temas delicados levantados pelos mediadores Mario Sergio Cortella, professor de teologia da PUC, e Caio Túlio Costa, diretor-executivo do Universo Online.
Ambos os debatedores se declararam contra a eutanásia. "Entendo a eutanásia como a indução da morte. Mas existe uma fronteira tênue entre a eutanásia e a morte assistida, que procura preservar a dignidade do paciente e evitar a crueldade de prolongar seu sofrimento", disse Uip.
Lygia, que enfatizou durante todo o evento a importância da compaixão, disse respeitar o suicida, que tem a "vocação da morte". Citou os versos de Maiakovski: "A morte não é difícil,/ difícil é a vida e seu ofício". Mas ressaltou: "Só que depois ele se matou".
À pergunta da platéia sobre a possibilidade de alguém ser enterrado vivo por engano, Uip respondeu que há métodos seguros para determinar se o sujeito está morto. "Não garanto que isso ocorra em todo o país. Por segurança, façam a gentileza de morrer em São Paulo."
(JGC)

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