São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alguns exemplos da infalibilidade humana

DAVID DREW ZINGG
EM SÃO PAULO

Às vezes você não queria poder desdizer alguma coisa extremamente idiota que acaba de dizer?
Não seria fantástico poder falar ou fazer sempre a coisa certa?
Em suma, não seria ótimo poder ser infalível?
Permita que eu te dê alguns exemplos:
RONALD REAGAN certa vez escreveu um artigo sobre sua vida futura para uma revista de Hollywood, Califórnia. Ele disse: "Nos últimos meses tenho trabalhado em dobro, atuando tanto na televisão quanto no cinema. Esse trabalho múltiplo me levou a concluir uma coisa, com toda certeza: nunca mais vou me permitir ser colocado numa situação em que preciso optar entre uma vaga no Congresso e uma posição confortável nos braços da estrela principal de um filme.
Os atores são cidadãos e devem exercer seu direito de cidadãos, expressando suas opiniões publicamente, mas o primeiro dever de um ator é para com sua profissão. Portanto, fiquem certos de que nunca mais vou me candidatar a prefeito ou a qualquer cargo senão o de chefe de minha própria família..."
Na era dos Beatles, a modelo TWIGGY era a heroína de milhões de garotas. Um dia um repórter sério lhe fez uma pergunta séria:
Repórter - "Twiggy, você sabe o que aconteceu em Hiroshima?"
Twiggy - "Onde é isso?"
Repórter - "No Japão."
Twiggy - "Nunca ouvi falar. O que aconteceu por lá?"
Repórter - "100 mil pessoas tiveram morte instantânea."
Twiggy - "Meu Deus! Quando você disse que isso aconteceu? Onde? Hiroshima? É pavoroso! 100 mil mortos? É medonho. Os homens são loucos."
Durante o lançamento de uma missão lunar na década de 70, a Nasa registrou em gravação as últimas vontades do astronauta JOHN YOUNG em relação a seu possível enterro. Trata-se de um lado gasoso das viagens espaciais, que você certamente ainda não tinha farejado.
Young - "Estou peidando outra vez. Começou tudo de novo, Charlie. Você não sabe como eu sofro com essa peidaneira."
Controle da missão - (resposta incompreensível)
Young - "De jeito nenhum. Acho que é ácido estomacal. Acho mesmo."
Controle da missão - "Deve ser."
Young - "Afinal, eu não comia tantas frutas cítricas havia 20 anos. E vou te contar uma coisa -depois dos próximos doze dias (palavra apagada da gravação), nunca mais vou chupar uma laranja na vida. E se me oferecerem potássio no café da manhã, eu vomito. Até gosto de chupar uma laranjinha de vez em quando. Mas ser enterrado em laranjas eu não topo, não mesmo."
GROUCHO MARX, por outro lado, é a exceção que comprova a regra. Groucho sempre acertava na mosca, não é mesmo, Joãozinho? Aqui vão algumas de suas observações extremamente pertinentes, para provar que ele comprova a regra:
*"Trabalhei duro para subir na vida -do nada para um estado de pobreza extrema."
*"Alô, aí é do serviço de copa? Faça-me o favor de enviar duas dúzias de rosas para o apartamento 424 e escrever: "Emily, eu te amo" no verso da conta."
*"Ela herdou a beleza do pai -ele é cirurgião plástico."
*"Que tal eu comprar de volta minha apresentação a você?"
*"Escavar trincheiras? Quando nossos homens estão sendo abatidos como se fossem moscas? Não há tempo para escavar trincheiras. Vamos ter que comprá-las prontas."
*"O termo 'inteligência militar' é contraditório em si."
*"Existe um jeito de saber se um homem é honesto: perguntar a ele. Se ele disser que sim, você saberá que é um trapaceiro."
*(Com a mão no pulso de um paciente) "Ou ele está morto ou meu relógio parou."
*"O homem é tão jovem quanto a mulher que ele apalpa."
*"Não gostei da peça, mas o fato é que a assisti sob condições adversas -com a cortina aberta."
Erramos (!)
Será que você se lembra, Joãozinho, de quando tio Dave se queixou de estar padecendo de um ataque sério de Sids, a infame Síndrome de Desequilíbrio Status-Renda?
Isso foi algumas semanas atrás. Eu me queixei do azar que me fadou a ser um fotógrafo e jornalista itinerante e mal-pago que, entre um dry martini e outro, nunca consegue guardar um centavo para constituir fortuna.
Minha reclamação se estendeu, falando dos contrastes vividos por quem é convidado para um coquetel à base de caviar em alguma mansão de ricaços e depois tem que voltar para casa e jantar sopa de pedras.
Reclamei muito do hábito que têm Os Ricos de desfrutar de nossa companhia quando isso interessa a eles. No dia seguinte, são capazes de nos esquecer tão rapidamente quanto varrem uma migalha de pão do colo quando se levantam da mesa.
Trata-se de uma generalização, do tipo que todo bom professor de jornalismo aconselha seus alunos a não fazer. Toda generalização tem sua exceção, e tio Dave se esqueceu de uma, importante. O fato é que quase todos os ricos que conheci na vida são muito mais memoráveis por suas contas bancárias do que por qualidades humanas como a simpatia.
Mas o único sujeito rico e legal que conheci é a exceção que comprova a regra.
Não vamos entrar em detalhes aqui, mas o cavalheiro em questão provavelmente salvou minha vida em uma ocasião (talvez a sociedade gostaria que ele não a tivesse salvo, mas aí está -isso é amizade, não interesse público).
William Faulkner, um dos meus grandes camaradas de álcool, certa vez comentou sobre esse assunto: "Talvez a única coisa pior do que ser obrigado a sentir-se grato o tempo todo é ser forçado a aceitar a gratidão de alguém".

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Festival comemora 30 anos de videoarte
Próximo Texto: Telles e Uip discutem as faces da morte
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.