São Paulo, sexta-feira, 1 de novembro de 1996
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Bombeiros não evitam emoção

DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio ao necrotério a céu aberto na rua Luís Orsini de Castro, bombeiros e policiais tentavam enfrentar a situação com profissionalismo, mas nem sempre conseguiam evitar a emoção.
O soldado Ricardo, do Corpo de Bombeiros de Santo Amaro, foi transferido da Polícia Militar para os bombeiros há apenas cinco meses. Era da Rota. "Para ser um bom policial você precisa ter um pouco de maldade no coração. Pedi para ser transferido. Achei que ia ser um pouco mais tranquilo."
Depois de ajudar a carregar uma dezena de corpos, Ricardo, 28, dizia ter aprendido "uma lição de vida": "Você vê uma mulher bonita e ela nem te dá bola. Aqui, numa hora dessas, você vê que é todo mundo igual".
O tenente-coronel Leopoldo Augusto Correia Filho, há 23 anos nos bombeiros, disse que o acidente foi a segunda maior tragédia que presenciou: "Só não foi pior que o incêndio do Joelma".
O soldado Novais, dos bombeiros, ficou responsável por uma das funções mais macabras: anotar o número de corpos que eram retirados dos escombros. "Estou controlando só o que está entrando. O que está saindo (indo para o IML) é outra pessoa que anota".
A cada corpo recolhido, Novais, 27, fazia um traço na sua folha. A cada cinco corpos, formava um quadrado com um traço em diagonal. Às 12h, o soldado já havia contado 93 corpos.
"Nunca vi nada nessa proporção", dizia, com a caneta à mão.

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