São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Aeromoça não distribui jornais no vôo 402 após o acidente

Corpo de uma vítima do acidente também vai no avião

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O corpo de uma das vítimas da queda do Fokker-100 da TAM viajou ontem de manhã junto com os 66 passageiros do primeiro vôo 402 após o acidente.
Excepcionalmente, ontem, os jornais do dia não foram distribuídos aos passageiros.
Alojado no compartimento de bagagens do avião, o caixão com o corpo do engenheiro mecânico Geraldo Luiz Arebe foi embarcado antes dos passageiros.
Marcado para às 8h20, o vôo decolou com um atraso de sete minutos. O avião não passou por cima do local do acidente.
O comandante Oswaldo (não informou o sobrenome) anunciou apenas a decolagem e o pouso, como de praxe. Procurado pela Folha, não quis falar.
Os passageiros pareciam tranquilos e alguns até dormiram."Viajo ao Rio a trabalho pelo menos duas vezes por semana", disse o gerente de shopping Francisco Ferraz, 39. "Não vou começar a ter medo de avião por causa de uma fatalidade."
Como Francisco, boa parte dos passageiros do 402 de ontem viajava a trabalho. "Eu ia no avião que caiu, mas adiei uma reunião e acabei indo no seguinte", disse o advogado Rubens Serra, 28.
Números
No vôo do acidente havia 90 passageiros, 24 a mais do que ontem. A assessoria de comunicação da TAM considerou a diferença como "oscilação natural do movimento." Cerca de 15 jornalistas estavam ontem no avião para fazer a cobertura do primeiro vôo depois da tragédia.
O engenheiro e professor universitário Antônio da Hora, 42, que vinha de Goiânia, sofreu muito durante o vôo, mas por causa de uma dor de dentes.
"Dói tanto que nem consigo ter medo", disse o engenheiro.
"A possibilidade de acontecer uma tragédia com o Fokker-100 da TAM, vôo 402, é menor do que com qualquer outro, porque esse aqui já caiu ontem", disse o engenheiro.
O pernambucano José Geraldo de Brito, 44, coordenador de projetos de sistemas, não pensa assim. "Sugeri no balcão de embarque que mudassem o número do vôo, para a gente não ficar sugestionado", contou Brito.
Ele disse que não passou uma noite boa. "Sonhei com o comandante Moreno (piloto do avião que caiu)", diz.
Brito viajou ao lado da dona-de-casa Brasilina Afonso, 81. "Nunca estive tão calma como nesse vôo", disse Brasilina, que tem oito filhos, 16 netos e quatro bisnetos.

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