São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morrison diz que vencerá vírus da Aids

Pugilista luta amanhã em Tóquio

JON SARACENO
DO "USA TODAY"

Houve o tempo em que nas cercanias da cidade existia uma placa do tamanho de um outdoor que saudava o herói local.
"Bem-vindo a Jay, Oklahoma, cidade de Tommy 'O duque' Morrison, campeão mundial dos pesados de 1993 da OMB."
Há nove meses, quando se aposentou após confirmar ter o vírus da Aids, a placa sumiu.
"Não foi retirada. Foi arrancada", diz Dana Jo Crouch, responsável pela homenagem. "Honestamente, tinha quem não a queria. Numa cidade pequena, todo mundo sabe da vida dos outros."
Para Morrison, que retorna aos ringues amanhã, em Tóquio, para financiar a abertura de sua fundação, Knockout Aids, a vida poderia ser assim resumida:
Adolescente durão e estrela do futebol no colégio. Jovem sensação entre os pesados. Coadjuvante no filme "Rocky 5". Bebedor, arruaceiro, mulherengo. Finalmente, soropositivo aos 27 anos.
Tudo isso, admite, permeado por uma vida sexual promíscua.
Seu teste de HIV positivo o tira do boxe em 21 Estados dos EUA. Mas Morrison planeja lutar mais duas vezes: amanhã, contra o desconhecido Marcus Rhodes e uma revanche contra George Foreman, talvez no exterior, em fevereiro.
Diz que "apenas um corte muito feio" o fará desistir.
Casado recentemente, Morrison vive em seu rancho com a mulher, Dawn, perto de Tulsa, não distante de Jay (2.200 habitantes), uma comunidade fechada e religiosa.
É pai de duas crianças de relações anteriores, Trey, 6, e McKenzie, 5. Nenhum vive com ele. Seu irmão Tim está preso por estupro.
"Homens não falham, eles desistem", diz uma placa em frente a uma igreja em Jay.
Morrison, um adventista do sétimo dia que é metade índio, entende o que está por vir e o que já se passou. É um sobrevivente e crê em si mesmo. Fala rápido, seus olhos escuros são inquietos.
"Voltar será bom para mim, para a fundação e para o boxe."
Há poucos anos, alguém pichou "Lar do Duque" num prédio público. Nos últimos tempos, alguém trocou o "D" pelo "P" (puke, que em inglês, significa vômito).
"Isso é ruim. Vivi lá toda a minha vida. Entendo como essas pessoas pensam e garanto que nunca vão querer que eu saiba quem foi. Por isso nunca vou descobrir, porque eles têm medo de me ver por perto. E eles têm razão, baseados em minha história."
"Ele está brincando", diz, nervoso, seu promotor, Tony Holden.
"Nem um pouco", ele responde.
No último verão, ele foi encontrado desmaiado em seu carro, próximo à delegacia de Jay, e levado a um hospital. Mais tarde, descobriu-se uma pistola carregada.
Declarado culpado por porte ilegal de arma, pegou seis meses em liberdade condicional, foi multado em US$ 100 e deverá cumprir 30 horas de serviço comunitário.
A polícia também confiscou uma bolsa com seringas. Morrison experimenta vacinas, e recebe tratamentos em Tijuana, no México.
"É bastante potente. Quero ter certeza de que funciona antes de falar qualquer coisa."
Recusa os medicamentos convencionais e especula que o governo "engana" os pacientes.
"Daqui a 20 anos, quando eu estiver saudável, dirão que sou um capricho da natureza. O pensamento cura. Deus não permitiria nenhum desejo que não pudesse ser alcançado."
Destino, Tommy David Morrison foi eleito o aluno com "a menor chance de sobrevivência" pela sua turma no colegial.

Texto Anterior: Hilma é 'estrela' reserva
Próximo Texto: Lutador cria fundação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.