São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Campos apresenta versos multimídia

FERNANDO OLIVA
DA REDAÇÃO

"Verbivocovisual." Augusto de Campos define assim sua performance "Poesia É Risco", que será apresentada no Videobrasil deste ano. Dito de outra forma, o poeta pretende unir imagem, som e palavra num espetáculo de poesia multimídia.
Segundo Campos, o termo "verbivocovisual", criado pelo poeta James Joyce (1882-1941), define a intenção de privilegiar -e apresentar para o público- aquilo que a palavra tem de visual e sonoro.
Enquanto Augusto lê os poemas, seu filho Cid Campos toca baixo e guitarra computadorizada, além de apresentar samplers pré-gravados em estúdio. O videoartista Walter Silveira mostra uma sequência de vídeos e slides sincronizados com a performance dos poemas e da música.
Na programação desta 11ª edição do Videobrasil -de 12 a 17 de novembro, no Sesc Pompéia-, a performance acontece no dia 14, às 22h. Em entrevista à Folha, Augusto de Campos falou sobre sua participação no festival.
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Folha - O que "Poesia é Risco" traz de novo?
Augusto de Campos - O espetáculo é bastante amplo na abordagem da linguagem poética. A novidade está no fato de se fazer uma espécie de diálogo da poesia com a música e com os sons e com o visual. Que é sincronizado com as leituras e com as performances.
Folha - E por que o nome "Poesia É Risco"?
Campos - Porque dá uma idéia bastante expressiva do espírito da coisa, já que se trata de uma poética experimental, que lida com linguagens novas. Não estamos falando de um trabalho feito num universo convencionalizado, já balizado. Por isso que a poesia é risco, especialmente nesse caso.
Folha - Você classifica a performance de "verbivocovisual"...
Campos - É um termo que usamos desde os anos 50, nos manifestos da poesia concreta. A idéia é que você passe a organizar e estruturar os poemas dando uma ênfase muito grande à materialidade da palavra.
Em vez de a palavra funcionar como num discurso comum e narrativo, onde é mero veículo, a tensão se concentra na exploração de sua virtualidade.
Palavra do ponto de vista material mesmo, visual, gráfico. É a valorização dos fonemas, da materialidade sonora da palavra. Faremos uma apresentação verbivocovisual, exatamente porque a poesia concreta, por lidar com a materialidade da palavra, desde suas sílabas e fonemas, cria uma nova relação, que não é apenas aquele recitativo do passado. É uma abordagem diferente, que preferimos chamar de oralização.
Folha - Você mistura leituras de poemas com elementos multimídia. Como acontece essa integração do velho e do novo em "Poesia É Risco"?
Campos - Não é propriamente o velho e o novo, já que essa dimensão oral da poesia sempre existiu, desde o tempo da poesia grega. No Brasil, não há muita tradição de leitura de poesias. O que estamos fazendo é uma abordagem nova, que provém, na origem, da própria proposta da poesia concreta, que desde o início se propôs como uma poética que explorava a materialidade da palavra em todos os seus parâmetros.
Folha - O que o público deve esperar de "Poesia É Risco"?
Campos - A intenção é produzir um espaço poético diferenciado. Convidamos o espectador a entrar num universo de palavras, de som, de luz, de imagens e criar uma espécie de provocação no sentido emocional. Levar as pessoas a saírem da coisa cotidiana.

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