São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Mix Brasil faz happening das sexualidades

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Começa nesta quinta-feira mais uma edição do Mix Brasil - Festival de Manifestações das Sexualidades, desta vez com a intenção de promover um grande happening em torno das mais diferentes formas de amar e de se expressar.
Em sua quarta edição, é a versão mais abrangente do evento. Efetivamente dá um passo fora do círculo de produções e temáticas de interesse restrito ao círculo gay, promovendo mais integração entre homossexuais, heterossexuais, transexuais, pansexuais e outras (cada vez mais desnecessárias) classificações.
"Esperamos um público mais misturado mesmo", diz André Fischer, 31, diretor do festival. E a ferveção promete sair de dentro das salas do Centro Cultural e do Espaço Unibanco para ganhar o coquetel de abertura e a animada filial do bar Orbit, que deverá ser ponto de encontro do povo, antes e depois dos filmes.
"Os programas também mostram como outras sexualidades estão se incorporando àquelas ditas 'normais"', completa Fischer, que conta 83 filmes, entre oito longa-metragens de fôlego, incluindo o esperado "Stonewall", que abre a programação na quinta-feira (leia quadro abaixo).
O filme de Nigel Finch retrata a problemática situação da comunidade gay em Nova York no final dos anos 60, com códigos que legislavam sobre o número mínimo de roupas "de homem" que se deveria vestir (três), bem como um homem dançar de frente para outro numa pista de dança (não).
Gay Pride
O clima de animosidade culmina com a pancadaria no bar que dá nome ao filme e ao movimento, que depois se convencionou chamar de Gay Pride, o chamado Orgulho Gay.
No dia do Gay Pride, Nova York realiza uma grande marcha pelas ruas, alvo neste ano do videoclipe "Direitos Assegurados", de Ruth Slinger. "Meu filme é o óbvio do óbvio: adoraria que o mundo fosse todo assim. O festival significa poder falar da liberdade de amar", explica a diretora.
Assim, a dica para compreender o novo tom do Mix Brasil é o programa "Ydaih?" (corruptela para "e daí?"). São produções brasileiras de diretores e atores não necessariamente gays, "que não têm medo de rótulos", anima-se Fischer: "Tudo é muito inteligente, sofisticado e de bom gosto, falando de sexo sem preconceito".
O programa traz "Metalguru", de Flavio Colker, com hilariante interpretação de Renata Sorrah no papel de uma hippie tardia, junto a Christiana Guinle e Mariana de Moraes como um casal de motoqueiras em viagem para o Alaska.
No chuveiro
Tem como atração extra cenas no chuveiro de Mariana -legítimo ícone de "bolachas" (gíria paulista para lésbicas modernas), enquanto "Flor de Obsessão" traz, por sua vez, o ator de "Tieta" Heitor Mello em quentíssimas cenas de nu -também no chuveiro.
Dora Longo Bahia, Marcelo Arruda, Renato Cohen, Priscilla Farias e Marcelo Ferrari uniram-se na persona de Philippe Ledoux, que assina a direção de "Novela Vaga". "'Entramos apenas com o roteiro original", brinca a artista plástica Longo Bahia, 34.
Sátira às produções francesas da nouvelle vague, o filme tem imagens de "Alphaville", de Godard, estrelando Marcelona, cultuado personagem da cena noturna de São Paulo.
Ledoux é nome saído do método Capelle, da Aliança Francesa, que os alunos tinham que decorar. O filme traz os mesmos diálogos -em francês- e legendas em português tiradas de sinopses de novelas publicadas nos jornais.
O badalado diretor publicitário & câmera man Marcus (MC) Fernandes participa com o filme "Trip", de 30 segundos. Para ele, "essa abrangência de opções e de liberdades de expressão do festival é que garante seu ecletismo".
Outro hype garantido é a prévia do novo filme do premiado Karim Ainouz, "Paixão Nacional" (ainda não terminado), antes de sua estréia no Festival de Berlim.
Nas produções estrangeiras, "Nova Sexualidade" traz o novo filme de Philip B. Roth ("Eu Fui um Garoto de Programa Judeu"), que desta vez é "Gay de 25 Anos Perde Sua Virgindade para uma Mulher".
Aposte ainda no programa "Hot Porn", pura sacanagem experimental americana. Babado fortíssimo.

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