São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Grupo ataca tutsis na capital

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Centenas de manifestantes atacaram lojas e roubaram carros de tutsis na capital do Zaire.
"Eu os vi quebrar as janelas de duas lojas que são sabidamente de tutsis no centro de Kinshasa e saquear um caminhão de cerveja", afirmou Marc Hoogsteyns, cinegrafista da TV Reuter.
"Eles estavam guiando dezenas de carros roubados."
Os tutsis, que figuram entre os principais empresários e profissionais do Zaire, estão arrumando as malas e fugindo de Kinshasa, com medo de uma "caça às bruxas" por causa dos ataques dos rebeldes tutsis no leste do país.
Em uma votação na noite de anteontem, o Parlamento do Zaire (de transição) aprovou texto pedindo que os tutsis sejam retirados do Exército, do serviço público e das empresas estatais.
Congo
Tutsis fugiram para o vizinho Congo durante toda a semana e, ao chegarem ao país, reclamaram da perseguição dos zairenses.
Na segunda-feira, 50 tutsis chegaram ao Congo, e outros 30 seguiam anteontem para lá.
"Os zairenses atacaram a minha casa, e agora tenho de viver escondido. Logo que puder, vou ao Congo", disse um tutsi em Kinshasa.
Até pouco tempo, ele trabalhava como administrador de uma fábrica. Tem origem tutsi, mas viveu toda a sua vida no Zaire. Sua família deixou Ruanda nos anos 20.
Passeata
Algumas centenas de manifestantes fizeram passeata até o escritório do premiê Kengo wa Dondo para pedir uma ação mais forte contra os tutsis de Ruanda.
Na segunda-feira, Miko Rwayitare, o presidente tutsi de uma operadora de telefone celular, a Telecel, renunciou ao seu cargo.
"A idéia de que Miko e a Telecel seriam envolvidos nos acontecimentos políticos pelos quais o Zaire está passando hoje é completamente absurda", disse o presidente-interino da empresa, Joe Gatt.
Os primeiros tutsis chegaram a Ruanda há 200 anos, os banyamulenges. Nos anos 20, outro grupo seguiu em direção a Kinshasa e se misturou com a população local.
O próprio primeiro-ministro Kengo tem sangue tutsi.
"Devemos acabar com o nosso inimigo de dentro", disse o vendedor de cigarros zairense Baudoin Kabeya, em Kinshasa. "Kengo deve ir embora também, pois a sua mãe é ruandesa."

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