São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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BALAS SEM DONO

A violência urbana tomou tantas e diversas formas que é praticamente impossível distinguir as áreas seguras das perigosas ou escolher um ritmo de vida que garanta ao cidadão a segurança necessária. As ameaças já podem vir a qualquer hora do dia ou da noite, e contra elas não há fórmulas de defesa. A população, cada vez mais temerosa, se torna impotente diante da crueldade do inesperado.
Vítimas de balas perdidas não são fato novo no quadro de violência que tem marcado as grandes cidades brasileiras, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. Mas a sucessão de casos dessa natureza na capital fluminense, onde 18 pessoas foram atingidas em apenas 10 dias, estampou novamente a face assustada de uma população vulnerável.
Os tiros podem entrar pelas janelas de um ônibus ou de um apartamento, rasgar ruas movimentadas até escolher um pedestre de pouca sorte ou encontrar uma vítima que espera o tempo passar na porta de sua casa. Mesmo que se tente permanecer longe da violência, ela chega até o cidadão sem ao menos dizer por que está ali, sem explicar de onde surgiu.
Soltos no ar, sem destino certo, os projéteis mortais cariocas têm na verdade uma origem, vêm de um mal que se espalha de forma indiscriminada pelo país. São fruto da ilegal, mas livre, comercialização de armas de fogo, da falta de determinação das autoridades para coibir a disseminação dessas fontes de violência.
Enquanto as balas sem dono e sem alvo assustam a cidade do Rio de Janeiro, os paulistanos pedem pelo fim dos assaltos e chacinas. São populações intranquilas com o presente, com o retorno incerto para casa, com as chances de ter a vida interrompida mesmo durante o sono.
Tráfico de drogas, crime organizado, miséria são todos componentes de uma realidade de medo e insegurança. O controle sobre as armas de fogo faz-se necessário, e o poder público deve respostas. Sem isso, os assaltos seguirão vitimando diversos segmentos da população, e os tiros continuarão encontrando os mais indefesos dos cidadãos.

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