São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Um pequeno escândalo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Mal foi noticiado, mas a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado autorizou, na quarta-feira, a Hidrelétrica Itaipu a receber uma dívida de US$ 140 milhões do Paraguai na forma de títulos da dívida externa brasileira.
Em vez de dinheiro, o Paraguai dará para Itaipu títulos da dívida externa brasileira no mesmo valor.
Qual é a sacanagem?
O Paraguai vai comprar papéis da dívida com deságio no mercado secundário. Por exemplo, título do tipo bônus ao par é comprado por cerca de 60% do seu valor nominal.
Se usar o papel descrito no parágrafo anterior, o Paraguai gastará apenas US$ 84 milhões para comprar títulos da dívida brasileira equivalentes aos US$ 140 milhões que deve a Itaipu.
O projeto de lei autorizando a operação foi uma iniciativa do Poder Executivo. Para não ficar muito esquisito, sugere que o ganho com o deságio do título da dívida brasileira seja dividido entre os governos dos dois países.
Mas a divisão não pára por aí. O Tesouro brasileiro também terá de dividir os custos de corretagem da operação com o governo paraguaio. Isso num limite de 4% do valor total.
O argumento básico do governo brasileiro para dar esse presente ao país vizinho é simples. O Brasil também já pagou dívidas que tinha com Itaipu usando títulos podres.
É um argumento esquisito. No caso do Brasil, o governo usou títulos seus e tudo ficou em casa.
No caso do Paraguai, se a questão é de isonomia, bastaria dar algum desconto para que o governo daquele país pagasse a sua dívida.
Por que gastar dinheiro com corretoras comprando papéis da dívida brasileira para pagar os débitos com Itaipu? Quem são essas corretoras? Quanto vão ganhar? O Senado não se preocupou com isso.
Essa é uma operação complexa. De difícil compreensão para quem não é "do ramo", como costuma dizer um diretor do BC.
Quem compreende, mesmo, são apenas os que ganham dinheiro com isso.

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