São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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A política cambial e o "MSI"

CLAUDIO MONTEIRO CONSIDERA

Uma nova realidade da política comercial internacional impacta o Brasil no fim dos anos 80, exigindo completa reforma da estrutura de tarifas, reduzindo a proteção da indústria nacional.
Os saldos da balança comercial tornaram-se negativos. Resultado da retomada do crescimento e de níveis ainda baixos de produtividade de vários setores industriais. Mais: a essa nova realidade juntaram-se a estabilidade da moeda e uma política cambial sem as desvalorizações frequentes da década de 80, originárias da falta de financiamento, que duplicaram as importações de matérias-primas e bens de capital.
Pelo lado das exportações, sua taxa de crescimento já declinava bem antes do Plano Real. A causa deve ser buscada na tendência de longo prazo da produtividade, que, após crescer em média 2,4% ao ano na década de 70, praticamente estagnou nos anos 80. Na primeira metade dos anos 90, a produtividade cresceu 7,5% ao ano, o que apenas recoloca o Brasil onde estaria caso a tendência de crescimento não tivesse se interrompido. Apenas porque reagimos a tempo é que não se exclui o país, "a priori", do processo de globalização.
Os que apostam no fracasso dessa integração competitiva vêem o déficit do presente de forma estática, sem examinar seu futuro. Do lado das importações, estamos ampliando e modernizando o parque produtivo com máquinas e equipamentos, que representam atualmente 23% da pauta. Em 1990, sua participação no investimento era de 10%; em 1995, aumenta para 25%.
Matérias-primas e bens intermediários têm a maior fatia (47%), é certo. Mas muitos desses bens não eram produzidos internamente e passaram a compor produtos brasileiros melhores e competitivos. E muitas dessas importações são peças que virão a ser produzidas internamente e quiçá exportadas, num processo de substituição de importações que tão bem conhecemos.
Do lado das exportações, aos poucos a situação vai sendo revertida, graças à maior competitividade conseguida com mais produtividade, menos custos (a exoneração do ICMS é um exemplo). Além disso, há acordos já vigentes, como o regime automotivo, com compromisso explícito de exportação.
Também há que considerar o aumento dos investimentos diretos, que, a partir de economias de escala obtidas num mercado como o brasileiro, virão a se constituir em empresas competitivas internacionalmente. No curto prazo, a disponibilidade de financiamento externo associada às nossas reservas permite fazer essa transição.
Estamos diante de dois caminhos: seguir a atual política de incentivo à competitividade ou voltar ao passado -desvalorização, inflação, redução de salários, demandas por reindexação, desvalorização do patrimônio nacional e desincentivo à eficiência. Felizmente, esse passado é suficientemente recente para que a sociedade se oponha ao "Movimento dos Sem Inflação" (MSI).

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