São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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A modernização do açúcar

LUÍS NASSIF

Nos próximos meses, um dos ícones do velho modelo intervencionista estará de pé-na-cabeça.
O setor sucroalcooleiro terá até 1º de janeiro para se adaptar à portaria 64, que liberou os preços do açúcar e do álcool. Até o final do mês deverão ser definidas as linhas de consenso para o período de transição.
Os problemas na mesa são conhecidos. Há dois tipos de álcool, o anidro e o hidratado. O anidro, mistura-se à gasolina -portanto, não compete com o petróleo. O hidratado abastece a frota a álcool, e não é competitivo em relação à gasolina.
Para que haja plena liberdade de mercado, há duas precondições. A primeira é que não exista mais o monopólio da exploração e refino do petróleo. Portanto, o prazo para a plena liberação do mercado estará amarrado ao prazo para a Petrobrás flexibilizar o monopólio.
A segunda precondição é que, no mano a mano, o álcool hidratado não é competitivo com o petróleo. Ou se acaba com a produção, ou se encontram maneiras de viabilizá-lo. E aí parte-se para a busca de formas alternativas à chamada conta petróleo -a conta que sustenta os subsídios ao álcool.
Hoje em dia, a conta do anidro é de R$ 40 milhões mensais; a do hidratado, de R$ 120 milhões. A conta álcool fatura R$ 120 milhões, portanto os R$ 40 milhões do anidro estão a descoberto.
Setores paulistas, a favor do modelo de liberação do mercado, defendem as seguintes alternativas:
1) Em relação ao anidro, a incorporação do álcool ao preço da gasolina. Significará aumento de preço da ordem de 5%. Com a incorporação, acabarão fraudes e sonegações praticadas por pequenas distribuidoras.
2) Em relação ao hidratado, há a necessidade de subsídios, para permitir manter a competitividade em relação à gasolina.
Ocorre que a manutenção do hidratado interessa a Estados. A São Paulo, pela geração de empregos; ao Paraná, pelo discurso ambientalista. O que se sugere é que os Estados participem desse processo, utilizando o ICMS para eventuais incentivos.
Competitividade
A questão essencial é que, com a desregulamentação, emergirá um setor muito mais competitivo do que o atual.
Hoje em dia, há um franco movimento mundial em favor da biomassa. No ano passado, São Paulo fechou acordos importantes com Estados e produtores americanos, visando uma política comum de estímulo à biomassa.
No início do próximo ano, haverá seminário internacional reunindo técnicos europeus e japoneses.
Nesse novo mundo, a produtividade brasileira é relevante. O álcool produzido em São Paulo é a biomassa de menor custo no mundo; o álcool nordestino, a quarta do mundo.
Enquanto a produtividade paulista cresce 3,5% ao ano, a nordestina cresce a 1,5% -performance excelente, se comparada ao crescimento de 1,5% na produtividade do açúcar de beterraba nordestino.
Além disso, a proximidade com os EUA e Europa, e a existência de bons terminais exportadores na região conferem boa competitividade para a exportação nordestina.
No Nordeste, o custo da exportação é de US$ 10 a tonelada, em São Paulo, de US$ 50.
O que se verá nos próximos anos será um processo de entrada de novos investimentos no Nordeste, especialmente em Alagoas, trazendo um perfil empresarial que sepultará de vez o velho modelo colonial na região.

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