São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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As razões de Jatene e de FHC

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Há uma tendência ao endeusamento do ministro da Saúde, Adib Jatene.
É comum, por exemplo, ouvir o seguinte comentário: "O Jatene quer consertar a saúde. Não dão dinheiro para ele. Sem condições, ele reclama para o Fernando Henrique e sempre ameaça pedir demissão. Quem segura o ministro é o presidente".
Isso é apenas metade do que acontece. Apenas a metade.
De fato, Adib Jatene deseja consertar o sistema de saúde pública do país. Pediu dinheiro para a equipe econômica. Recebeu apenas uma parte.
Além disso, Jatene gosta de ser ministro. Ao contrário do que diz a lenda, é preocupadíssimo com sua imagem pública e com seu futuro político. Queria fazer um bom trabalho para servir ao país. Mas também a si próprio -o que é legítimo, mas muitas vezes as pessoas se esquecem.
Com um temperamento irritadiço, Jatene acha que tudo caminha pelos trilhos da lógica. Recebeu algumas migalhas para reforçar o orçamento da saúde. Achou, com razão, muito pouco. E reclamou. Reclamou muito.
Num período em que o governo está cortando tudo o que pode para controlar gastos, o presidente e a equipe econômica esperavam de Jatene uma atitude mais condescendente.
Mas o ministro não quer nem saber. Se falta dinheiro, reclama.
Trata-se de uma situação semelhante à de uma empresa em estado pré-falimentar. A situação é crítica, mas um chefe de departamento solicita uma reforma que diz impostergável.
O burocrata pede mesas, cadeiras, mais telefones, computadores, pintura nova no prédio etc. "Sem isso, vamos acabar falidos mesmo", argumenta, com razão. O dono da empresa compra apenas mesas novas. Insatisfeito, o funcionário continua a reclamar. Mas não oferece alternativa.
Foi isso que Jatene fez. E continua a fazer. "A referência do Jatene é Xapuri", desabafou FHC recentemente para um interlocutor.
Jatene se encheu.
O presidente também.

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