São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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Próxima eleição ou geração?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Rudiger Dornbusch é alemão de nascimento, norte-americano naturalizado, professor universitário do mitológico MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Rubens Ricupero é brasileiro, diplomata de carreira, foi ministro da Fazenda e hoje comanda a Unctad, braço da ONU para comércio e investimentos.
São, portanto, duas pessoas sem nenhum ponto de contato, a não ser o interesse permanente pelo mundo, até porque estão em postos de observação privilegiados, um em sua cátedra de um dos templos acadêmicos mais respeitados do planeta e o outro em um posto e cidade (Genebra) estratégicos.
O fato de terem visões bastante parecidas a respeito do Brasil atual (conforme entrevistas à revista "Veja" e à Folha) deveria, por isso, servir como motivo de reflexão para quem não fica entrincheirado nem na suposta "fracassomania" nem em um ufanismo tolo como, em geral, são os ufanismos.
Em essência, o que Dornbusch e Ricupero dizem é que o governo Fernando Henrique Cardoso parou na estabilização da economia, um feito que ambos reconhecem como notável, mas claramente insuficiente.
Ou, para reproduzir Ricupero, "a estabilização não pode ser confundida com projeto nacional; ela é apenas a precondição da possibilidade de ter esse projeto".
Traduzido para português menos cauteloso, o que os dois estão dizendo, na prática, é que o governo FHC não conseguiu, até agora, ser mais do que medíocre (no sentido, autorizado pelo "Aurélio", de comum, mediano). É pouco em termos absolutos e menos ainda se comparado à natural expectativa que se poderia ter em relação a um presidente com o perfil de FHC.
É claro que a estabilização da economia é um ativo político/eleitoral relevante. Do que talvez decorra o fato de o governo ficar atado a ela, sem ampliar o horizonte. Mas alguém já disse que político é quem pensa na próxima eleição e, estadista, quem pensa na próxima geração.

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