São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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A questão racial

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

- Eu peço desculpa...
Deve ser caso único de desculpa em boca de candidato; quanto mais de branca, para negro. Erundina fez história no horário eleitoral, ontem, mas antes havia feito mais, desastrosamente, ao falar em "branco safado".
Se mérito houve no episódio, foi abrir a questão racial, que vinha "cordial". Abriu-se e tudo subiu. Reações inesperadas, de espectadores dizendo, por exemplo, para ela "voltar para a Paraíba".
Na Bandeirantes, o cientista político Bolívar Lamounier protestou:
- Como é que ela se permitiu colocar este assunto em debate... O Brasil devia ignorar na vida política a questão racial.
Era tarde. A questão racial estava em debate; aliás, havia meses, mas oculta. Escancarada, revelou um mundo.
Alguém citou frases malufistas também preconceituosas, como "não é que as professoras não ganhem bem: são é mal casadas". Na Gazeta, Vicentinho defendia Erundina:
- A pressão é grande, já tem denúncias de que eles têm grupos que chegam onde estão os negros e falam, "olha, não vai votar naquela branca".
Disse que Erundina é discriminada. O liberal Cláudio Lembo rebateu:
- Que discriminada... Já foi prefeita. Discriminado fui eu, que não fui eleito. Eu que sou paulista.
O Canal 21 diz que "a situação começa a complicar quando a campanha entra em área racial". Recorda-se caso parecido em Guarulhos, de preconceito anticatólico. José Paulo de Andrade, da rádio Bandeirantes, onde começou tudo, pergunta:
- Será que todo negro que consegue ascensão social é obrigado a lutar pela sua causa? Eles são muito cobrados. O Pelé já foi, agora o Pitta.
E assim a grosseria de Erundina revelou o outro lado de uma eleição.

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