São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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REPERCUSSÃO

José Ramos Tinhorão, 68, crítico de música - A música popular é um produto destinado ao mercado do mundo capitalista, portanto obedece suas regras. Este modo determina que quem pode mais, chora menos: o Brasil pode menos, portanto chora mais. Quanto a equilibrar o desnível da balança entre as matrizes das multinacionais do disco, produtoras de música de massa e a produção nacional, já foi tentado por meio de legislação desde o tempo do presidente Jânio Quadros. Só tem uma coisa: lei escrita não corrige lei de mercado. Se há um país dominado pelo capital estrangeiro, você não pode ter nenhum produto em que o brasileiro se reconheça. O sr. Weffort que se contente com a filosofia do neoliberalismo e não venha com enganação. Se quiser um Brasil brasileiro, que volte aos seus princípios ideológicos e pense em revolução.

Gilberto Gil, 54, cantor e compositor - Em geral, a noção de protecionismo sempre foi vista com simpatia. Ela foi justificada em determinadas épocas porque a quase hegemonia da música estrangeira era evidente. Recentemente, tive informações de que a presença da música brasileira melhorou muito. Acho que a MPB é a menina dos olhos e da alma nacional e isso garante sua sobrevivência. É preciso saber em que o ministro se baseia para ter uma atitude como essa. Se ficar comprovada uma vantagem da música estrangeira, isso passa a ser uma preocupação legítima. Agora um aumento do espaço não significa que vá haver mais democratização. Com a restrição, saem o rock e o pop estrangeiro, mas quem entra? Sertanejo? Pop nacional? Samba? Para mim, é quem estiver mais articulado no setor executivo e mais no coração da massa.

Darcy Ribeiro, 73, senador (PDT-RJ) - Acho a discussão razoável, precisamos defender a música brasileira. Para mim, isso não é a exclusão do país do convívio mundial. Outros países têm mecanismos com esse mesmo objetivo. Como senador, sou favorável a uma legislação e uma regulamentação que, por exemplo, estimulem as rádios e televisões que dêem preferência à produção nacional.

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