São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Califórnia vota uso da maconha

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

Anna Boyce tem 67 anos, dois filhos, seis netos e uma causa: garantir a utilização da maconha para fins médicos.
No começo do ano passado, Anna passou um mês tentando convencer seu marido, John Joseph, a fumar maconha para reduzir os efeitos da quimioterapia.
John tinha câncer no pulmão desde 1994 e uma expectativa de vida de três meses. "Ele estava aterrorizado porque fumar maconha é ilegal e você pode perder tudo o que tem se for processado", disse Anna à Folha.
Quando John cedeu, Anna ganhou a droga de presente e decidiu manter o caso em absoluto segredo. Nem seus filhos sabiam que o pai estava fumando maconha para enfrentar a quimioterapia.
A história só se tornou pública depois que John morreu, em setembro do ano passado, e Anna decidiu defender a legalização do uso médico da droga.
Hoje, os californianos vão votar uma proposta nesse sentido registrada por Anna, com o apoio de 780 mil eleitores.
Segundo ela, a maconha provocou uma mudança visível na qualidade de vida do marido. "John era um ser humano de novo. Era capaz de comer, descansar bem, sair."
A opção pela maconha veio depois que John já havia tentado todos os remédios tradicionais para reduzir os efeitos da quimioterapia, sem sucesso.
"O que você faz quando alguém que você ama está definhando, vomitando, perdendo suas habilidades? Senta e fica olhando?"
Anna ganhou seis cigarros de maconha de alguém que ela diz desconhecer. "Deixaram na porta da minha casa."
John fumou apenas quatro cigarros, durante seis meses, nos dias em que se submetia à quimioterapia. Segundo Anna, algumas tragadas eram suficientes para melhorar o estado de seu marido.
Tentativas anteriores
Essa não é a primeira vez que o Estado da Califórnia tenta aprovar o uso terapêutico da maconha.
O Poder Legislativo já aprovou anteriormente dois projetos de lei com o mesmo conteúdo da proposta que será votada hoje. Nas duas vezes, em 94 e 95, os textos foram vetados pelo governador Pete Wilson.
As votações tiveram apoio de representantes democratas e republicanos tanto na Assembléia quanto no Senado estadual.

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