São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Ieltsin é operado e passa bem, diz médico

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Foi "um sucesso completo" a cirurgia cardíaca do presidente da Rússia, Boris Ieltsin, na manhã de ontem. A avaliação foi do médico norte-americano Michael DeBakey, principal consultor da equipe que colocou cinco pontes de safena no presidente.
O primeiro-ministro do país, Viktor Tchernomirdin, assumiu todo o controle do país (inclusive a senha das armas nucleares), como era previsto. Segundo o chefe da equipe médica, Renat Aktchurin, Tchernomirdin deve ser o presidente-interino até hoje ou amanhã, quando Ieltsin reassume.
O médico russo demonstrou estar satisfeito com a operação, que durou sete horas, mas foi cauteloso: "Começa agora o importantíssimo estágio pós-operatório", disse (leia texto nesta página).
Decreto
A operação de Ieltsin foi realizada quase de surpresa. A agência de notícias russa "Itar-Tass" anunciou-a às 7h37 (hora de Moscou, 2h37 em Brasília), 37 minutos depois de seu início.
Mas vários jornalistas viram quando, no final da madrugada, o presidente, 65, foi transferido da clínica Barvikha, onde se preparava para a cirurgia, para o Centro de Pesquisas Cardiológicas de Moscou, onde a operação ocorreu.
Desde a véspera, a data de ontem já era dada como certa, mas sem confirmação oficial.
Minutos antes de ser anestesiado, Ieltsin assinou o decreto transferindo o poder a Tchernomirdin e emitiu uma mensagem de apoio a ele: "Nem por um minuto o país ficará sem um líder com completos poderes. Ele (o premiê) e meus outros colegas são pessoas testadas e confiáveis". Desde que Ieltsin se afastou, logo após sua reeleição, Tchernomirdin passou a acumular funções no governo.
Riscos
A operação de Ieltsin foi decidida após ele sofrer pelo menos dois ataques cardíacos. Os médicos diagnosticaram que o coração de Ieltsin não recebia sangue suficiente e decidiram pela operação de ponte de safena.
Os médicos inicialmente disseram que foram necessárias mais do que as três ou quatro pontes previstas. DeBakey anunciou mais tarde que haviam sido colocadas cinco pontes. "Não é anormal haver cinco pontes de safena."
Durante a cirurgia, Ieltsin ficou durante 68 minutos com o coração parado. Ele recobrou a consciência no começo da noite de ontem (à tarde no Brasil).
Segundo DeBakey, cirurgião pioneiro das pontes de safena, que já fez mais de 60 mil cirurgias, Ieltsin vai poder voltar a trabalhar normalmente. Se ele não fizesse a cirurgia, corria sério risco de morrer em breve ou ser obrigado a abandonar progressivamente as suas funções.
Cirurgia suspeita
Apesar da demora e do número de pontes de safena, maiores do que o esperado, Aktchurin disse que não houve surpresas.
"Nada de extraordinário surgiu. Agora o músculo cardíaco está recebendo sangue suficiente para funcionar normalmente."
Mas especialistas ocidentais disseram que esse é um sinal de que o coração de Ieltsin estava mais danificado do que havia sido anunciado anteriormente. "Quanto mais pontes, mais doenças", disse o britânico John Wright, chefe do setor de serviços cardíacos do London Chest Hospital.
Segundo ele, a média de implantações de pontes por cirurgia é três. "Acima de cinco é pouco usual e pode levar a uma recuperação prolongada e complicações no futuro." O cardiologista disse ainda que um grande número de safenas aumenta a chance de ataques cardíacos no futuro.

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