São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Clinton é o 1º democrata a ser reeleito presidente desde 1936

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Bill Clinton, 50, o primeiro presidente dos Estados Unidos nascido após o fim da Segunda Guerra Mundial, derrotou ontem Bob Dole, 73, último veterano daquele conflito a concorrer à Presidência. Clinton é o primeiro presidente de seu partido, o Democrata, a se reeleger em 60 anos, desde Franklin Roosevelt.
Cerca de 90 milhões de norte-americanos foram às urnas escolher o presidente e vice, 435 deputados, 34 senadores e 11 governadores.
Às 22h30 locais (1h30 de hoje em Brasília), as projeções das pesquisas de boca-de-urna já davam como seguros para Clinton 291 votos do Colégio Eleitoral, cinco a mais que o necessário para sua vitória, contra os 106 de Dole.
Eles ainda indicavam que o Partido Republicano, de oposição, ficará com a maioria no Congresso. Se a previsão estiver certa, os republicanos terão mantido a hegemonia sobre o Congresso por quatro ano seguidos pela primeira vez desde 1930 e Clinton terá sido o único presidente de seu partido eleito com um Congresso de oposição.
Tempo bom
O dia foi bom para altas taxas de participação eleitoral. Não choveu nem nevou em nenhuma região do país e as temperaturas estiveram acima da média para esta época.
Apesar disso, estimava-se que a abstenção se aproximaria de 50%, como resultado de uma das campanhas eleitorais menos interessantes para o público em toda a história do país, embora tenha sido a mais cara de todas (cerca de U$ 1,6 bilhão).
Nem Clinton nem seu principal oponente, Bob Dole, conseguiram entusiasmar os eleitores de seus próprios partidos.
O mais importante candidato alternativo, Ross Perot, do Partido da Reforma, não repetiu o desempenho de quatro anos atrás, quando obteve 19% dos votos populares. Tampouco o advogado Ralph Nader, pioneiro na defesa dos direitos do consumidor, que concorreu pelo Partido Verde, foi capaz de mobilizar o ânimo de seus admiradores.
Infância
Clinton, Dole e Perot votaram nas cidades em que passaram a infância, respectivamente, Little Rock, Arkansas; Russell, Kansas, e Dallas, Texas. Repetiram hábito deste século da política norte-americana: antes, os candidatos à Presidência se recusavam a votar para não parecerem pretensiosos por se escolherem para o mais alto cargo da nação. Abraham Lincoln, em 1860, votou, mas rasgou a cédula na parte do voto presidencial.
Clinton estava tão seguro da vitória que passou parte do dia em contatos para a renovação de seu ministério.
Dole tentou demonstrar a mesma animação que tomou conta dele na maratona final de 96 horas de comícios com que fechou sua campanha. Perot, mais abatido do que há quatro anos, foi cauteloso no que disse após votar.
Virada do século
Clinton, que estará na Presidência na virada do século, terá de reduzir o déficit público federal, reformar os sistemas previdenciário e médico do país, modificar as leis sobre financiamento eleitoral e lidar com um instável quadro internacional no Oriente Médio e na ex-Iugoslávia.
Ele vai gastar boa parte de seu tempo defendendo-se de acusações de ilegalidades, do já surrado caso Whitewater ao mais recente "Asiagate", passando por uma denúncia de assédio sexual.
A maioria dos senadores e deputados que concorreram ontem se reelegeu. Entre eles, o senador Strom Thurmond, o parlamentar mais idoso da história dos EUA, que terá cem anos ao final de seu mandato, em 2003, e o ultraconservador senador Jesse Helms, um dos autores da lei que ampliou o bloqueio econômico a Cuba.
Os eleitores também decidiram ontem sobre 90 propostas de leis estaduais, entre elas duas muito controvertidas, na Califórnia: a que termina com todos os programas de ação afirmativa no Estado e a que legaliza a venda de maconha como medicamento.

LEIA MAIS sobre as eleições nos EUA às págs. 1-11 a 1-14

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