São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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A VEZ DA TELEFONIA

Está começando a privatização da telefonia no Brasil. O Ministério das Comunicações já está divulgando os editais e prevê a assinatura de contratos de concessão à iniciativa privada de serviços de telefonia celular para maio. Durante os próximos seis meses, portanto, haverá tempo para avaliar as qualificações técnicas dos interessados e sobretudo para que o próprio ministério traga a público o seu projeto de regulamentação do setor e de privatização da Telebrás.
Este início da privatização da telefonia deve ser seguido pelo anúncio de um novo sistema para concessões de rádio e TV. O governo promete recuperar a decência perdida, levando em conta o balcão de negócios e politicagem em que se converteu a concessão de radiodifusão no passado.
A abertura das telecomunicações é um processo complexo e com múltiplas facetas, mas é de uma urgência absoluta. O setor é talvez o mais dinâmico da economia mundial e passa por uma concentração global.
A importância da experiência que agora se inicia de abertura da telefonia para consórcios fica evidente mesmo quando se examina o perfil dos candidatos a explorar o serviço. Os grupos congregam empresas de vários setores da economia brasileira e com alianças estratégicas com as principais empresas hoje participantes da concorrência internacional.
Ou seja, a privatização inaugura uma nova forma de desenvolvimento econômico no país, em que no lugar do famoso "tripé" Estado, capital nacional e capital estrangeiro entram em cena alianças entre grupos nacionais e estrangeiros que atuam em vários setores, das finanças à construção, incluindo os principais grupos das comunicações brasileiras.
Infelizmente, o próprio governo ainda não tem um discurso unificado sobre questões essenciais nessa área. O ministro Kandir afirmou, por exemplo, que a Embratel será privatizada, sendo desautorizado pelo ministro Motta. É mais ruído numa área de política econômica em que a clareza de rumos e princípios é urgente.
Ao mesmo tempo, o ministro das Comunicações retomou um discurso de defesa da indústria nacional de equipamentos de telefonia e da capacitação tecnológica amparada no Estado. Novamente, as intenções podem ser louváveis. Mais importante para a sociedade, entretanto, é ter o máximo de garantias de que o governo de fato está disposto a desmontar o tripé. E, por enquanto, parece que ainda há ruído nessa linha.

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