São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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O paradoxo do Banco Central

ANTONIO DELFIM NETTO

Os bancos centrais do mundo estão passando por momentos de grande perplexidade. A inflação se reduz por toda a parte, como consequência de múltiplos fatores: ampliação do comércio mundial; desmontagem do estado do "bem-estar" e aumento das privatizações, que causam grande insegurança nos trabalhadores e melhoram a situação fiscal; o desenvolvimento tecnológico poupador de mão-de-obra e exigente de novas habilidades, que, combinado com rigidez no mercado de trabalho, produz enorme desemprego e, paradoxalmente, reduz ainda mais o poder dos sindicatos; a aceitação de aumentos de salários nominais calculados pela inflação prospectiva e não pela passada; a aceitação pela sociedade de uma ideologia hegemônica que coloca o mercado como o demiurgo de um mundo ao mesmo tempo eficiente e justo. A redução da inflação é, também, sem dúvida, devida à política monetária.
A perplexidade decorre do fato de que os bancos centrais sabem o que a maioria não sabe: que eles viram desfazer-se -pela satisfação do mercado financeiro e pela desregulamentação- todas as certezas que costumavam ligar, no passado, a variação de alguma variável sob seu controle às variações do nível dos preços. O grande paradoxo é que os bancos centrais têm mais poder justamente quando sabem menos o que fazer! É por isso que frequentemente o seu comportamento se torna paranóico, concentrado apenas na taxa de juros.
Não é por outro motivo, na nossa opinião, que muitos países caminham para uma solução interessante: dão ao Banco Central total independência, mas o submetem à total responsabilidade. Obrigam o Banco Central a um contrato de gestão (fixação da taxa de inflação dentro de um intervalo) e juntam a isso a dispensa "ad nutum" em caso de fracasso não plenamente justificado perante o Congresso. Damos abaixo uma lista de países que já adotaram caminhos parecidos com este:

Com esse mecanismo (que está sendo proposto também nos EUA), os bancos centrais têm ampla liberdade de escolha de instrumentos, mas o setor privado tem que confiar na eficácia de sua ação. É essa confiança que constitui o principal mecanismo coordenador de preços e salários que mantém factível a realização do objetivo.
A observação ainda curta dessa experiência mostra que os bancos centrais dão a maior importância às expectativas inflacionárias (que ele mesmo cria por sua confiabilidade) e à distância em que o nível de atividade se encontra do que eles supõem seja o de pleno emprego.

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