São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Nota zero para o zero ideológico

WALDIR SANTOS

De início, cheguei a pensar que fosse a fraca reação de um pequeno grupo de incompetentes confessos. Com o crescimento do boicote, passei a duvidar do que estava vendo e ouvindo. Quando não mais tinha jeito, tentei entender aquele movimento de estudantes que deblaterava contra o provão. Não consegui.
É inacreditável que com argumentos incongruentes os "estudantes" do Brasil tentem evitar que sejam avaliadas a sua capacidade e a qualidade de sua escola.
Dão, com a oposição ao Exame Nacional de Cursos, a mais triste indicação da realidade do ensino do país: além de insuficientes quanto ao conhecimento, os estudantes se mostram covardes, a ponto de se recusarem a conhecer a realidade ou algo mais próximo dela. É como o integrante do grupo de risco que se nega a fazer o exame que lhe dirá se é ou não soropositivo.
O "movimento estudantil brasileiro" recente precisa aproveitar tanto vigor para sustentar bandeiras mais importantes que essa despudorada fuga da realidade.
Quando ingressei na UCSal, em 1993, e pagava um salário mínimo por mês, conheci líderes estudantis, isentos de pagamento, que tinham a nobre missão de evitar os aumentos abusivos, negociando, em nome dos demais alunos, com a direção da universidade. Hoje, quando estou concluindo o curso e pago quase cinco vezes aquele valor, vejo os mesmos estudantes, que ainda vão demorar para chegar à formatura, dando continuidade à luta e cada dia mais respeitados em suas agremiações políticas.
É curioso como a imposição do provão alertou os alunos para a necessidade de avaliar os professores. Até havia bem pouco, ninguém tocava no assunto com tanta veemência.
A avaliação dos professores é indispensável, mas, se se quer uma radiografia fiel do ensino, deve-se começar pelo produto.
Condenar a exigência, pelas empresas, da apresentação da nota auferida no provão, quando da contratação do profissional, é outro exagero. Condene-se, também, o pedido de "curriculum vitae"! Claro que é um critério inidôneo o julgamento pela nota, como também o é pelo currículo. Quem vai proibir tal opção?
Teria alguém a noção da responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros, já que integramos uma privilegiadíssima parcela que consegue concluir um curso de graduação?
Para quem imagina ser inevitável a derrota, perder por "WO" parece ser menos vergonhoso.

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