São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Máfia russa ameaça liga profissional

Atletas estão sendo investigados

DA REPORTAGEM LOCAL

A máfia russa começa a expandir sua área de atuação para a NHL (National Hockey League), liga profissional de hóquei disputada por equipes dos EUA e Canadá.
A organização é acusada de se aproveitar da participação de jogadores oriundos da ex-União Soviética no torneio para executar operações que vão desde a extorsão até a manipulação de resultados das partidas.
O hóquei é o quarto esporte com maior público nos EUA, ficando atrás apenas do basquete, do futebol americano e do beisebol.
Com o fim da União Soviética, jogadores foram atuar na América do Norte. Hoje, em cada dez atletas que atuam na NHL, um é oriundo do antigo país comunista.
Vários jogadores russos que antes eram extorquidos agora são acusados de trabalhar para a máfia.
Investigações feitas pelo governo e por uma comissão do Senado norte-americanos apontaram que um dos jogadores, Pavel Bure, é um executivo de uma companhia suspeita de ser a maior face da máfia russa.
Bure, 25, conhecido como o "Foguete Russo", está em sua sexta temporada e é considerado um dos melhores jogadores da liga. Ele atua no Vancouver Canucks, time do Canadá. O salário: US$ 5 milhões por temporada.
O jogador é sócio de um russo chamado Anzor Kikalitchvili. Segundo documentos do FBI (polícia federal norte-americana), Kikalitchvili é um dos maiores líderes da máfia russa. Ele é acusado de "lavagem de dinheiro", extorsão e operações com drogas.
"O FBI tem evidências de que o senhor Kikalitchvili tem ligações com a máfia", disse o senador norte-americano William Roth.
Quando interrogado, Bure disse que mantinha negócios com Kikalitchvili. No entanto, negou qualquer envolvimento com atividades criminosas.
"Ouvi falar sobre isso, mas não
sei se é verdade."
Um outro atleta, também russo, cujo nome ainda não foi revelado, também é suspeito de fechar acordos com a máfia.
O medo de represálias acaba sendo um dos fatores para que os atletas aceitem a situação.
Um informante, em depoimento ao Senado, citou o caso do jogador Alexei Zhitnik, que atuava em Los Angeles e preferiu procurar ajuda de um grupo mais forte para resolver seus problemas a ter que recorrer diretamente à polícia norte-americana.
Método
À máfia russa é atribuída a responsabilidade por centenas de mortes por ano na Rússia. Suas vítimas incluem, rotineiramente, policiais e jornalistas.
Alguns estudos revelam que cerca de 40% da economia do país está em poder da organização.
A ação da máfia no hóquei é conhecida desde as ruas de Moscou até os rinques (local onde se disputam as partidas).
Os russos, além de serem numerosos, também têm posição de destaque na liga.
Nas duas últimas temporadas, dois dos quatro maiores goleadores foram russos.
Com tantos jogadores de destaque, a possibilidade de manipulação de resultados aumenta, o que coloca em risco a credibilidade da disputa.
Preocupada com a situação, a NHL respondeu oficialmente por meio de seu vice-presidente de relações públicas, Arthur Pincus.
"Periodicamente, tem havido especulações e rumores sobre quem estaria ou não associado ao crime organizado da Rússia. A verdade é que vamos tomar as medidas apropriadas para proteger a integridade do jogo e a segurança dos jogadores."
O FBI também tomou providências: montou um escritório de ligação em Moscou e vai trabalhar em conjunto com a polícia russa em futuras investigações sobre o assunto.

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