São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Sepultura no Olympia é apenas rock'n'roll, mas a molecada adora

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em agosto, no festival Monsters of Rock, o líder cinquentão do Motorhead, Lemmy, disse que ele e todas as outras estrelas do metal gostam muito de tocar no Brasil, e explicou a razão: "Essa é a terra da maior banda pesada do planeta!"
Os 4.000 fãs que bateram cabeça sem parar na noite de quarta-feira no Olympia (SP) atestaram que Lemmy entende do riscado. A primeira apresentação do Sepultura no turnê brasileira do álbum "Roots" foi a performance musical mais energética do ano.
Depois de dois anos longe dos palcos brasileiros, a banda que saiu de Belo Horizonte para virar cidadã do mundo rock despejou todos os hits sobre um público que recebia o Sepultura como heróis que voltam da guerra.
Para dar mais um toque nacionalista, a banda foi apresentada ao público por Zé do Caixão, outro brasileiro de sucesso no exterior. Acompanhado por duas "diabinhas", Zé do Caixão falou umas baboseiras sobre céu e inferno, ganhando a aprovação da platéia.
"Roots Bloody Roots", "Spit" e "Territory". Poucas bandas podem escalar um trio de mísseis como esse para abrir um show. A platéia, já devidamente esquentada por meia hora de barulheira perpetrada pelo Ratos de Porão, se entregou totalmente.
O quadro é uma das melhores representações possíveis da fúria adolescente. Um mar de cabeças subindo e descendo sem parar.
Para quem acompanha a carreira dos rapazes há tempos, o que mais surpreende é ver como eles melhoraram como músicos. "Pegada" a banda sempre teve, mas agora o quarteto agrega altas doses de virtuosismo a seu som.
Igor Cavalera é uma máquina na bateria, põe Nicko McBrain no bolso. Andreas Kisser incorpora frases incomuns aos riffs do repertório da banda, conseguindo fundir influências regionais no metal sem cair no exótico.
Max Cavalera e Paulo Jr. são os que mais surpreendem. Paulo está pronto para reivindicar o posto de melhor baixista do rock pesado. Ninguém chega perto.
Max está cada vez mais à vontade no palco. Há alguns anos, ele escondia o rosto debaixo da cabeleira e fazia o gênero "só com minha música". Agora, mais falante, encara a platéia o tempo todo e passeia com desenvoltura no palco, com total controle da galera.
Foi ele que conduziu um show sem incidentes, marcado pela alegria do reencontro da banda e seu público, com um certo ar de cumplicidade. Para cada garoto na platéia, o Sepultura é uma espécie de banda do bairro que deu certo.
O grupo voltou duas vezes para o bis. Atacou sucessos como "Arise" e "Dead Embryonic Cells". Para fechar, a versão definitiva que o Sepultura criou para a clássica "Osgasmatron", do Motorhead.
Igor martelando, Paulo rodando a cabeleira, Andreas com pose de guitar hero e Max soltando a voz de Capitão Caverna. É apenas rock'n'roll, mas a molecada adora.

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