São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Sax de Victor Assis Brasil ressurge no CD "Jobim"

Saxofonista esteve ausente das lojas por mais de uma década

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para muitos, ele continua sendo o maior jazzista brasileiro. Com seus discos fora de catálogo há mais de uma década, o saxofonista Victor Assis Brasil (1945-1981) retorna finalmente às lojas.
A gravadora Atração está lançando o CD "Jobim", que destaca versões do jazzista e compositor carioca para canções de Tom Jobim, em gravação de 1970.
Na época, Assis Brasil ainda cursava a Berkelee School of Music, em Boston (EUA), depois de ter conquistado prêmios como solista em concursos e festivais europeus.
Esse foi o início de uma carreira internacional, que incluiu parcerias com jazzistas notáveis, como Dizzy Gillespie, Clark Terry e Slide Hampton. Ou mesmo um convite para integrar os Jazz Messengers, do baterista Art Blakey.
Morto prematuramente (vítima de periarterite nodosa, uma espécie de inflamação arterial), Assis Brasil deixou sete discos preciosos. Ofereceu também um exemplo de integridade artística: jamais fez concessões a qualquer gênero de música descartável.
Apesar de ser fã declarado do norte-americano John Coltrane (1926-1967), desde suas primeiras gravações Assis Brasil já exibia um estilo próprio, esbanjando técnica e imaginação nos improvisos.
Na verdade, o CD "Jobim" é uma versão ampliada (com nova capa) do LP "Victor Assis Brasil Toca Antonio Carlos Jobim", gravado em agosto de 1970.
O sax alto e o soprano de Assis Brasil estavam muito bem-acompanhados nessa sessão de estúdio, que contou com Hélio Delmiro (guitarra), Don Salvador (piano e órgão), Edison Lôbo (contrabaixo) e Edison Machado (bateria).
Além das versões instrumentais de "Wave", "Só Tinha de Ser com Você", "Bonita" e "Dindi", também foi incluído no CD o prelúdio "Quartiniana" -composição de Assis Brasil dedicada ao produtor Roberto Quartin, criador do influente selo Forma, nos anos 60.
Responsável pelas primeiras gravações do jazzista, Quartin recorda episódios de sua relação com ele, no encarte do CD. E anuncia para 97 o lançamento de outros discos que produziu para Assis Brasil, incluindo "Desenhos" (de 66), o primeiro do saxofonista.
Interesse na MPB
O investimento na obra de Victor Assis Brasil reflete o interesse da gravadora Atração em se estabelecer na área da música instrumental e da MPB de qualidade.
"Produtos datados ou sem valor musical não me interessam", diz o músico e produtor paulista Edson Natale, 34, que responde pela gerência de MPB da gravadora há seis meses.
Desde então, Natale vem formando um catálogo que já destaca CDs do cantor Claudio Nucci ("Ê Boi"), do violonista Paulo Bellinati com a cantora Mônica Salmaso ("Afro-Sambas"), do grupo instrumental Dharana e da cantora Titane ("Inseto Raro").
Até dezembro, a gravadora lança "25 Anos Não São 25 Dias", que comemora os 25 anos do grupo pernambucano Quinteto Violado, com participações de Alceu Valença e Elba Ramalho.
Outro lançamento da Atração será o CD "Cem Anos de Pixinguinha". Gravado na França, pela cantora Teca Calazans, traz os maiores sucessos do mestre carioca do choro e do samba.
"Estamos interessados em atingir um segmento mais sofisticado de público", diz o gerente da gravadora, que se estabeleceu dando ênfase à música regional.

Disco: Jobim
Intérprete: Victor Assis Brasil
Lançamento: Atração
Quanto: R$ 18, em média

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