São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Miami vê paixão de Basquiat pela serigrafia

CELSO FIORAVANTE
EM MIAMI

Os brasileiros radicados em Miami ou de passagem pela cidade -e eles são milhares- têm até 7 de dezembro a oportunidade rara de conhecer as 11 telas da série "The Blue Ribbon", de Jean-Michel Basquiat (1960-1988).
Realizadas pelo artista plástico norte-americano de origem haitiana em 1984, as telas atingem agora, no Museum of Contemporary Art, a última de uma série de seis escalas por museus dos EUA.
Depois, elas voltam para a reserva técnica do Mount Holyoke College Art Museum, em South Hadley (Massachusetts), instituição para a qual foram cedidas por Lenore e Herbert Schorr. O casal de colecionadores adquiriu as 11 telas no próprio estúdio do artista, em Great Jones Street (NY).
Na série, Basquiat combina tinta acrílica, óleo e silk-screen (serigrafia) e repete textos e figuras presentes em seu léxico cultural e de experiências pessoais.
O busto coroado, por exemplo, é auto-retrato e também símbolo da nobreza do homem africano. Também são recorrentes as serigrafias de orgãos internos do corpo humano, como o ouvido, o olho e o aparelho digestivo, retiradas do livro "Gray's Anatomy", uma de suas tantas referências.
O título da série -"The Blue Ribbon"- é o nome de uma distinção concedida ao navio mais rápido na travessia do Atlântico. A citação é uma remissão a seus interesses por sistemas de comércio.
A série é o melhor exemplo de uso de silk-screen por Basquiat, que teve contato com a técnica em 1983. A serigrafia cativou o artista imediatamente pois, por meio de seu processo repetitivo, lhe dava uma liberdade infinita na combinação de elementos e amplo campo de improvisação.
A técnica, que tem a repetição em sua essência, era também a preferida de seu amigo Andy Warhol, que se usa dela com auto-referência, ao criticar, por meio da reprodução mecânica e automática, os processos repetitivos e não-criativos da comunicação de massa.
Lenore e Herbert Schorr dividiram com o galerista suíço Bruno Bischofberger e o artista e amigo Andy Warhol o título de maiores colecionadores de Basquiat durante a sua curta e frutífera carreira (cerca de oito anos). Possuem em seu acervo alguns de seus mais importantes trabalhos, como "Poison Oasis" (emprestado para a Documenta de Kassel em 1982), "Leonardo da Vinci's Greatest Hits", "Piscine Versus the Best Hotels" e "Notary".
Basquiat pode ser visto em São Paulo nas sete telas presentes em sua sala especial na 23ª Bienal, no parque Ibirapuera; na mostra de desenhos da galeria Luisa Strina; e no filme "Basquiat", de Julian Schnabel, em cartaz na cidade.

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