São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Curadora do MoMA fala de multicultura

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A curadora do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, Laura Hoptmann, 34, falou, em entrevista exclusiva à Folha, sobre o flagrante e recente interesse dos Estados Unidos em rever sua noção de história da arte, das perspectivas internacionais da arte contemporânea brasileira e do fenômeno da transculturalidade.
Hoptmann esteve no final do mês passado no Brasil, onde participou da mesa-redonda "Curadoria e Transculturalidade", no último dia do Congresso da ANPAP (Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas)
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Folha - Multiculturalismo e transculturalidade na arte são termos batizados pelos EUA na era politicamente correta. O que você acha deles no contexto da arte?
Laura Hoptmann - Não me preocupo com eles. Há de fato um fenômeno fortíssimo norteando os produtores de arte nos EUA e, em menor escala, na Europa Ocidental. É um revisionismo histórico, uma consciência de que aquela história da arte marcada pela produção preponderante de brancos, homens e ocidentais foi escrita parcialmente, que deixou de fora um monte de gente importante.
Idealmente, o conceito de multiculturalismo está mais atrelado ao politicamente correto, pois pressupõe a inclusão de minorias nessa história, enquanto transculturalidade se liga a uma inclusão mais fluida de representantes diversos desse contexto artístico. Tudo, na verdade, me parece uma questão de espelho. A gente se define mais facilmente a partir do diferente do que do igual.
Folha - O que está sendo feito estruturalmente no mundo da arte para revisar o panorama histórico?
Hoptmann - Um dos fenômenos é a busca da arte que está fora do já conhecido. Os grandes museus norte-americanos estão mudando suas imagens, tentando incorporar uma arte que antes era considerada "emergente".
Os espaços alternativos estão ficando praticamente sem razão de existir, à medida em que os grandes museus, como o MoMA, criam cada vez mais exposições de artistas novos, antes considerados marginais.
Folha - E quanto à arte contemporânea brasileira? Há muita procura internacional de artistas do Brasil nos EUA. Como você vê isso?
Hoptmann - Eu não acredito em se valorizar ou buscar um grupo de artistas baseando-se na noção de identidade cultural. Isso me soa antigo. Acho que hoje é mais importante valorizar artistas individualmente, não pelo seu país, mas sim por sua arte e suas idéias.
A projeção de certos artistas brasileiros, como Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Jac Leiner, Rosângela Rennó, Valeska Soares, Tunga e tantos outros, tem a ver com a qualidade deles e não com o fato de serem brasileiros.
Acho importantíssimo buscar esses artistas, que nem sempre estão em evidência ou que ainda não foram chancelados. Daí o papel de mostras como o "Antarctica Artes com a Folha" ou o "Nascente".

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