São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Hutus sequestram 100 crianças no Zaire

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Guerrilheiros da etnia hutu sequestraram cerca de cem crianças zairenses e as levaram para o campo de refugiados de Mugunga, habitado por hutus, segundo mulheres da aldeia de Keshero.
As mães das crianças disseram ser hutus de origem zairense e que o objetivo da guerrilha seria forçar os habitantes do lugar a lutar ao lado do grupo contra os tutsis.
Não há confirmação independente do fato, já que todas as organizações humanitárias deixaram a região na semana passada, devido aos intensos combates.
Em outro incidente dramático, funcionários da ONU disseram que refugiados ruandeses estão morrendo de sede nas montanhas do leste do país. Eles já eram refugiados da guerra civil de Ruanda quando o Zaire começou a combater os rebeldes tutsis e as Forças Armadas ruandesas na região. A ONU recebeu esta informação em Gisenyi (Ruanda), aonde vários refugiados conseguiram chegar.
O deslocamento dos refugiados causou uma grande crise humanitária no leste do Zaire. No campo de Mugunga, no centro do conflito, há mais de 420 mil pessoas sem auxílio, em situação precária.
Cerca de 50 zairenses que fugiam da guerra chegaram ontem a Kisangani, última cidade importante antes da região do conflito, após caminharem 530 km. Eles estavam doentes, cansados e machucados e disseram que outras centenas de pessoas estavam a caminho.
Eles deixaram Bukavu, cidade que foi cercada pelos rebeldes tutsis banyamulenges no começo do conflito. Os banyamulenges são zairenses cujos ancestrais foram de Ruanda para o Zaire há cerca de dois séculos. Eles lutam contra o governo com o apoio de Ruanda.
Os tutsis já haviam se envolvido em uma guerra civil em Ruanda em 1994 (e vencido) contra a etnia hutu -daí haver tantos refugiados hutus no leste do Zaire, que voltaram a ser pressionados pelos banyamulenges.
O conflito no leste do Zaire refletiu-se em tumultos na capital do país, Kinshasa, onde há um clima de hostilidade contra os tutsis.
Milhares de estudantes cercaram o Parlamento e pediram a renúncia do primeiro-ministro Kengo wa Dondo, de ascendência tutsi.
Ajuda internacional
Ministros da União Européia se reuniram ontem em Bruxelas para tentar uma solução para a crise humanitária. Mas os europeus demonstraram receio em enviar uma força sem a participação dos EUA e um mandato das Nações Unidas.
A Espanha disse que está disposta a mandar, em conjunto com a França, 5.000 homens para a região. A alta comissária da ONU para refugiados, Sadako Ogata, afirmou que a força de intervenção só terá sentido se for neutra e tiver poder de desarmar os grupos.

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