São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Da grosseria ao oportunismo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Salvo erro de memória, Fernando Henrique Cardoso é o responsável por uma política que, segundo o PT, só produz desemprego e misérias correlatas.
Então, o que FHC estava fazendo quarta-feira à noite no horário gratuito de propaganda eleitoral reservado para Luiza Erundina, a candidata do PT à Prefeitura de São Paulo?
A única resposta honesta cabível é esta: estava sendo instrumento involuntário de cenas explícitas de oportunismo eleitoral.
Erundina e seus marketeiros podem inventar mil explicações, algumas até palatáveis, mas a verdadeira é a exposta no parágrafo anterior.
A mensagem subliminar era a seguinte: estão vendo como o PT não faz oposição cega ao governo? Quando o presidente anuncia medidas que combinam com as propostas do partido o PT até cede a ele uma fatia generosa de seu horário gratuito.
Falso, mas conveniente para, talvez, arrancar um punhado de votos dos eleitores do PSDB, partido que ficou sem candidato para o turno decisivo.
Some-se ao oportunismo a grosseria do "branco safado", cometida no início da semana, e tem-se um melancólico final de campanha para o PT.
O fato de Erundina ter pedido desculpas, embora seja um gesto raro no meio político, reduz a proporção da grosseria, mas não a elimina. Nem a alegação de que ela foi cometida no "calor de um grande comício". Quem escorrega nesse tipo de "calor" deixa margem para que se tema que possa escorregar também em outro tipo de "calor", aquele gerado pela tomada de decisões vitais, no comando de uma cidade (Estado ou país, tanto faz).
Tudo somado, fica-se com a impressão de que o PT está resvalando, ao menos em São Paulo, para o vale-tudo eleitoral, exatamente a prática que mais condenou em seus adversários (e com razão, aliás).
Vale mesmo tentar a vitória à custa de deixar pedaços d'alma no meio do caminho?

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