São Paulo, sábado, 9 de novembro de 1996
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Fokker e TAM adotam medida antipane

LUCIA MARTINS

LUCIA MARTINS; RODRIGO VERGARA
DE LONDRES

Empresa holandesa recomenda às operadoras de Fokker-100 que inspecionem reverso; TAM cria novo relé

RODRIGO VERGARA
A TAM e a Fokker -fabricante do avião que caiu no último dia 31 em São Paulo- já estão tomando providências para tentar evitar novos acidentes.
A empresa holandesa Fokker Aircraft enviou uma mensagem para todos a companhias aéreas que operam com Fokker-100 pedindo que eles façam uma checagem extra nos reversos das turbinas antes da decolagem.
O aviso foi feito anteontem, por causa das investigações da queda, que apontam para uma pane no acionamento do reverso. No acidente morreram 98 pessoas.
Desde que o avião começou a ser fabricado, em 1988, esse sistema nunca precisou ser checado antes do vôo, porque é confeccionado para apenas ser acionado na hora do pouso. Ele funciona como uma espécie de freio, revertendo o jato da turbina quando o avião pousa (veja quadro nesta página).
"Por favor, verifiquem antes da decolagem se o sistema de reverso na turbina está respondendo corretamente", diz a mensagem à qual a reportagem da Folha teve acesso. A checagem é feita manualmente por um técnico.
A KLM, companhia aérea holandesa, é uma das maiores operadoras do Fokker-100 na Europa. A empresa afirmou que recebeu a mensagem e que começou a cumprir a recomendação desde ontem.
"Os fabricantes costumam mudar regras periodicamente, mas o fato é que a checagem do reverso antes da decolagem nunca foi rotina", disse Margolin Wyenting, porta-voz da KLM, que opera 26 aviões Fokker (seis Fokker-100).
Segundo a CAA (Civil Aviation Association), que controla e fiscaliza os vôos do Reino Unido, são raros os casos de empresas aéreas que fazem essa checagem.
A Folha procurou a Fokker por telefone na Holanda, mas foi informada de que ninguém iria falar sobre o caso ontem, mas apenas na próxima segunda-feira.
Novo relé
A TAM desenvolveu um novo relé -interruptor elétrico- para o acionamento do reverso do motor do Fokker-100, na tentativa de evitar panes no equipamento.
Com autorização da Fokker -empresa holandesa que fabrica o F-100-, a TAM instalou o novo relé ao lado do antigo, que equipa todos os Fokker-100 em operação no mundo e cujo mau funcionamento pode ter causado a queda.
A Folha apurou a informação com funcionários da TAM. A empresa não confirma a medida nem divulga o número de aeronaves que teriam recebido o dispositivo. A TAM possui 27 Fokker-100.
Todas as investigações do acidente apontam que o avião caiu porque o reverso direito da aeronave abriu intermitentemente quatro vezes durante a decolagem, desestabilizando o aparelho.
O relé seria o pivô do defeito, segundo técnicos da TAM, da American Airlines -que usa cerca de 70 F-100 nos EUA- e do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), que investigam o acidente.
O relé é responsável pela abertura e fechamento da válvula hidráulica que comanda o reverso.
Por meio da análise do projeto do avião e de testes em outras aeronaves Fokker-100, essa equipe de investigação chegou a duas hipóteses para o funcionamento intermitente do relé: rompimento de um fio que liga o relé à cabine ou curto-circuito no relé.
A equipe provocou os dois defeitos em aviões em bom estado, e o efeito observado teria sido o mesmo visto pelas testemunhas que acompanharam a decolagem e queda do F-100 da TAM: a abertura sucessiva do reverso.

LEIA MAIS sobre o acidente aéreo na pág. 3

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