São Paulo, sábado, 9 de novembro de 1996
Próximo Texto | Índice

Fome ameaça 80 mil crianças no Zaire

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mais de 80 mil crianças com menos de três anos de idade morrerão no leste do Zaire até o final do mês se não forem abertos corredores para alimentá-las, segundo o Programa Mundial de Alimentação.
"As pessoas já estão começando a morrer", disse Catherine Bertini, diretora-executiva do grupo.
"Elas estão sem comida, sem as mínimas condições de higiene e sem água. As crianças podem pegar doenças que se espalham rapidamente entre essas populações."
Segundo funcionário de um grupo de ajuda humanitária, vários dos 175 mil refugiados que deixaram os campos próximos a Goma e seguiram para o oeste morreram.
O diretor-geral do grupo de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras, Bernard Pecoul, calcula que pelo menos 13,6 mil refugiados hutus já tenham morrido no leste do Zaire.
"No caminho, as pessoas começaram a morrer. Outras estavam cansadas demais, e nós as deixamos na estrada", disse Jean-Paul Masimana, 20, um estudante que sobreviveu a uma caminhada de 500 km até o Zaire central.
A crise começou quando os tutsis banyamulenges receberam a ordem de deixar Kivu Sul, a região onde moram há 200 anos, e lançaram uma ofensiva contra o Exército do Zaire como resposta.
Na região do conflito estão vários campos de refugiados com mais de 1,2 milhão de hutus (etnia rival), que fugiram das guerras civis de Ruanda e Burundi.
A metade dos refugiados tem menos de 16 anos. Eles recebiam ajuda de grupos humanitários nos campos, mas tiveram de fugir.
A situação piorou na semana passada, quando os tutsis tomaram o aeroporto de Goma, por onde chegava a ajuda internacional.
Luta por comida
Em Goma, tutsis deram tiros para o ar e bateram em mais de mil pessoas famintas que lutavam pelos últimos restos de comida de um armazém da ONU na região.
Os últimos funcionários de grupos de ajuda humanitária deixaram Goma no sábado passado depois de intensos combates na cidade que deixaram 400 mortos.
O Zaire reiterou ontem a sua política hostil aos refugiados ao afirmar que não quer nenhum refugiado de Ruanda ou de Burundi em seu território.
"Não haverá novos campos de refugiados em nenhum lugar do Zaire", disse o ministro da Informação, Boguo Makeli.
Os campos atuais já foram abandonados. Suas declarações foram feitas quando o enviado da ONU, Raymond Chrétien, chegou a país para tentar resolver a situação.
Cerca de 20 mil refugiados voltaram para Burundi ontem apesar de temerem o governo tutsi do país. Eles também estão sem comida e sem água potável.

Próximo Texto: ONU deve aprovar intervenção
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.