São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Debate sobre campanha de Erundina deve gerar nova crise interna no PT

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Qualquer que seja o resultado da eleição da próxima sexta-feira em São Paulo, a campanha de Luiza Erundina será objeto de intenso debate no interno no PT. Haverá críticas à conduta da candidata.
O assunto ainda é tratado com muito zelo no PT. O objetivo é evitar novos atritos entre a direção do partido e o comando da campanha de Erundina. Mas, passada a eleição, mais uma crise estará à vista.
O primeiro embate entre os estrategistas de Erundina e a direção do partido já tem data marcada. Vai ser no dia 18 de novembro, quatro dias após a eleição. O confronto inicial vai ser com a executiva do diretório estadual.
O PT paulista colocará à mesa de debates um relatório com balanço sobre a campanha em todo o Estado de São Paulo. A disputa na capital terá destaque.
No dia 29, o PT nacional vai reunir em São Paulo todos os seus prefeitos eleitos. Haverá novo balanço sobre o desempenho nas eleições. O último debate do ano sobre o tema será feito pelo diretório estadual no dia 14 de dezembro.
A previsão é de que o clima será tenso em todos esses debates. "Lavagem de roupa suja" é a expressão mais usada por dirigentes do PT para definir o tema desses encontros. O alvo, na maioria dos casos, será mesmo Erundina.
Há um arsenal de críticas a ela. Um exemplo é a forma como a ex-prefeita conduziu o primeiro turno de sua campanha na TV. O PT não gostou de ver sua candidata economizando críticas a Paulo Maluf, além de evitar polarizar a campanha com ele.
Também não gostou do fato de a candidata ter tentado esconder a cara do PT no primeiro turno, agravado com o mote "O PT que diz sim". No segundo turno, outro foco de críticas -elogios e imagens de FHC no programa de TV.
Principal líder do partido, Luiz Inácio Lula da Silva já ensaiou os primeiros ataques a essa estratégia. Suas observações foram rechaçadas pelo deputado Pedro Dallari, principal auxiliar de Erundina.
Na mesma ocasião, Dallari também insinuou que havia ressentimentos da direção do PT com Erundina. "Acho que, se há ressentimento, é da parte do Dallari", diz Cândido Vaccarezza, secretário-geral do PT nacional.
"Não há necessidade do Dallari falar assim do Lula", afirma Vaccarezza. "Há consenso no PT de que a primeira fase do programa de TV não foi bom."
Até setores mais fiéis a Erundina, como a corrente Democracia Radical, liderada pelo deputado José Genoino (SP), ensaiam críticas.
"Há muita insatisfação com o fato de Erundina não ter assumido posição mais ousada no primeiro turno", diz Francisco Campos, secretário de comunicação do PT paulista. "Essa avaliação passa por todos os setores do partido, inclusive os mais próximos a ela."
Outros setores do PT criticam a indisciplina partidária de Erundina. Para eles, a petista toma decisões importantes sem consultar o partido. Limita-se, dizem, a ouvir seu grupo político mais próximo.
Jilmar Tatto, coordenador da campanha, discorda dessas avaliações. A começar pela falta de agressividade no primeiro turno. "Se naquele momento entrássemos de forma agressiva e polarizando com Maluf, estaríamos fora do segundo turno", afirma.
Para ele, lideranças do PT, a quem ele evitou dar os nomes, não aceitam a "liderança que Erundina tem na sociedade".

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