São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Secretário francês não acredita em testes

BETINA BERNARDES
DE PARIS

O secretário-geral do Comitê Nacional de Avaliação da França, André Staropoli, disse, em entrevista à Folha, que não acredita, "sobretudo em nível superior, em testes que são em seguida comparados ou confrontados".
"Eu acredito que deve haver uma avaliação estabelecimento por estabelecimento. Tenho uma certa inquietude em relação a grandes enquetes", disse.
A França possui cem universidades e 200 escolas de ensino superior. São 2,4 milhões de estudantes. O comitê já avaliou todas as universidades, e agora está em um processo de voltar às instituições para saber o encaminhamento dado às recomendações feitas. Leia abaixo trechos da entrevista.
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Folha - A avaliação instituição por instituição permite dizer se o ensino da universidade é bom?
André Staropoli - - É o objetivo, mas somos contra a idéia, como existe em certos países, de fazer uma classificação de universidades. O diploma conferido por uma universidade tem um valor nacional. Nós não dizemos se a licença da Universidade de Nice é melhor que a da Universidade de Lille. Isso nos parece absurdo.
Folha - No Brasil, o objetivo de fazer o teste é para saber se o ensino da instituição é bom. Como vocês podem saber se o ensino é bom? Não me refiro ao professor particularmente, mas ao ensino.
Staropoli - É a mesma coisa que a medicina. Se você vai ver um médico que tem marcado "diplomado em medicina", então você pensa que, se ele é diplomado em medicina, é capaz de cuidar. Se não está diplomado em medicina, você não vai vê-lo para ser tratado. Se você vai a uma universidade com um professor que é reconhecido como professor, você considera que ele é capaz de ensinar. Para nós é uma evidência. Temos professores que são controlados. Não se pode ser professor num estalar de dedos. Há também informações objetivas, como taxa de sucesso, taxas nos diferentes concursos, que analisamos.
Folha - O senhor conhece o sistema educacional brasileiro?
Staropoli - Conheço. Já fui ao Brasil e já tive contato.
Folha - O senhor acha que esse sistema de avaliação proposto pelo governo é uma boa idéia?
Staropoli - Me permito não comentar as decisões tomadas em outro país.
Folha - O comitê já pensou em fazer algo parecido?
Staropoli - Não. Pessoalmente, sei que o Brasil é gigantesco e que há os Estados. Não é como na França. Temos um sistema centralizado, enquanto que, no Brasil, há governos regionais muito fortes.
Folha - O senhor acha, pessoalmente, que se o estudante faz um teste depois de ter terminado o curso, com essa nota é possível avaliar a universidade?
Folha - Não acredito muito, sobretudo em nível de ensino superior, em testes que são em seguida comparados ou confrontados. Eu acredito que deve haver uma avaliação institucional, estabelecimento por estabelecimento, e creio que é responsabilidade de cada instituição de tentar melhorar a qualidade de seu ensino procedendo a uma avaliação de cada curso sob controle da instituição. Tenho grande inquietude sobre grandes enquetes.

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