São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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"Exame não avalia ensino superior"

PATRÍCIA CEOLIN
DA FOLHA CAMPINAS

O reitor da Unicamp, José Martins Filho, criticou a maneira como o Exame Nacional de Cursos está sendo implantado, mas disse que é favorável à avaliação do ensino nas universidades brasileiras.
Martins Filho também preside o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), que representa 114 universidades entre públicas e particulares.
O Crub divulgou nota em que demonstra preocupação em relação ao mecanismo de avaliação que está sendo implantado pelo governo federal. A moção foi divulgada no dia 30 de outubro e salienta que essa forma de avaliação pode se transformar em elemento desagregador entre as instituições.
A Folha conversou com o reitor na última quarta, por telefone. Martins estava em Boston, nos Estados Unidos, participando do encontro "Educação Superior na América Latina". Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
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Folha - O provão avalia a universidade?
José Martins Filho - O provão não avalia a função da universidade. Avalia só uma instância da universidade, que são os alunos. Se é para implantar uma avaliação, tem que ser para valer, dentro de um processo que considere não só o estudante, mas também professores, pesquisas, currículos e toda a estrutura da universidade.
Folha - Como seria esse tipo de avaliação?
Martins Filho - A Unicamp já faz uma avaliação institucional há quatro anos, e os resultados são usados para determinar políticas administrativas de cada faculdade. Esse tipo de avaliação tem dito coisas importantes para que cada universidade saiba onde investir, onde há necessidade de contratação e reciclagem de professores e em que nível está a pesquisa.
Folha - Como é feita a avaliação?
Martins Filho -É uma dupla avaliação: interna e externa. Internamente, os alunos avaliam os professores semestralmente, e os professores também se auto-avaliam. Externamente, um grupo de consultores, formado por professores das mais variadas universidades, é convidado a visitar as faculdades, a conversar com professores e alunos, a examinar currículos, a verificar as produções de trabalhos científicos e a emitir pareceres referentes a cada campo.
Folha - Quais os resultados que a avaliação trouxe para a Unicamp?
Martins Filho -Um dos resultados mais expressivos é que temos mais de 70% de professores doutores na universidade. Outro resultado é fornecer dados para a elaboração de modelos eficazes de avaliação.
Folha - Existe algum modelo de avaliação?
Martins Filho -Uma das avaliações mais importantes e mais bem-sucedidas é feita pela Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) nos cursos de pós-graduação. Os profissionais da entidade verificam as bibliotecas, os laboratórios e acompanham a produção acadêmica do docente.
Folha - Qual a sua opinião sobre um exame feito no final do curso?
Martins Filho -O exame de final de curso deveria ser implantado progressivamente. A sociedade tem o direito de conhecer seus profissionais. Acho que todos os profissionais deveriam ser testados de cinco em cinco anos e não apenas no momento de ingresso no mercado de trabalho.

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