São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Ranking também é tabu para europeus

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Rankings que listam as universidades pelo seu desempenho -como o que será feito com o provão- são tabu também na Europa. Quem diz isso é o secretário-geral da Conferência de Reitores Europeus, Andris Barblan, 53.
O público, diz ele, quer os rankings para saber se a universidade é boa. Mas as instituições acham que esse tipo de lista não usa critérios acadêmicos.
A seguir, trechos da entrevista.

*
Folha - O Ministério da Educação está implantando no Brasil uma avaliação em que se aplica um exame junto a alunos do último ano de graduação. O sr. acha que isso cria um indicador importante?
Andris Barblan - Depende muito da forma como o exame está sendo montado. O importante é que a aprendizagem dos estudantes, o que eles realmente tiram do curso, não é equivalente ao conhecimento que eles adquirem. Mas é uma coisa muito difícil de medir, porque há muitas variáveis.
Folha - Por exemplo?
Barblan - Imagine que você aprendeu a falar inglês. Será que é porque você teve um professor muito bom, ou porque a biblioteca era boa, ou porque você, pessoalmente, é muito motivado, ou, ainda, porque sua avó fala inglês?
Folha - E como vocês fazem para avaliar isso?
Barblan - Em alguns países, há visitas às salas de aula. Os colegas vão ver como os estudantes estão sendo ensinados. Mas o interesse é mais em torno do trabalho do professor, para dizer que talvez desta ou daquela forma ele teria melhores resultados.
Folha - Há muitas universidades com esse acompanhamento?
Barblan - Depende do país. Mas é ainda muito devagar. Muita gente se ressente de ter colegas lá no fundo da sala, pesquisando sua competência profissional.
Folha - Como vocês fazem para quebrar essa resistência?
Barblan - Simplesmente ajudando os professores a compreenderem, convencendo que é do interesse deles serem avaliados. Que isso não é para punir ou para reduzir seus salários.
Folha - O exame no Brasil deve produzir um ranking de instituições. Como o sr. vê esses rankings?
Barblan - Isso é algo em que o público está muito interessado. Todo mundo gostaria de saber se a universidade para a qual está mandando seu filho ou filha é boa.
Mas, como as universidades na Europa são públicas, elas dizem que, se já são controladas pelo governo, não precisam de rankings. O ensino seria igual em todas.
Na verdade, ranking na Europa é um tabu. Eles são feitos pelos jornais ou revistas, com base em critérios que não são necessariamente reconhecidos pelas universidades como sendo acadêmicos.

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