São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Japão sai da crise com máxi de 40%

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A continuidade no poder do primeiro-ministro japonês Ryutaro Hashimoto e do presidente Bill Clinton não se fez acompanhar da mesma estabilidade nos mercados cambiais.
A derrapagem do dólar foi deflagrada por comentários de Eisuke Sakakibara, conhecido como "Mr. Yen", uma das principais autoridades japonesas responsáveis pela política cambial. Na opinião de Sakakibara, os mercados de capitais mundiais subestimaram a força da economia japonesa.
Se a recuperação em curso no Japão é de fato mais forte do que se imagina, então deve estar chegando ao fim o período de taxas de juros baixas. Se os juros tendem a subir no mercado japonês, há um estímulo para que investidores se desfaçam de suas aplicações em dólares. Vendem dólares para comprar ienes. Assim, aumenta a oferta de moeda norte-americana, que se desvaloriza, enquanto o iene passa por uma valorização.
Sakakibara negou informações segundo as quais ele teria afirmado que a desvalorização do iene tinha chegado ao seu limite. Nos últimos 18 meses a moeda japonesa perdeu 40% do seu valor, depois de bater no pico de 79,75 ienes por dólar. Agora está na faixa de 111 a 112 ienes por dólar. Os juros nos títulos públicos de dez anos, em Tóquio, subiram de 2,5% para 2,61%.
Até pouco tempo atrás as projeções indicavam um crescimento de cerca de 1% para a economia japonesa. O governo, num contexto de posse do novo gabinete, naturalmente faz um jogo de otimismo sobre o vigor da recuperação. Enquanto isso, os jornais ocidentais ainda se ocupam da última quebra no sistema financeiro japonês ou do escândalo de corrupção no mercado de cobre, manipulado por um especulador do Japão.
Máxi
É fato que a economia japonesa encontra-se enredada no que é provavelmente a maior crise financeira da era moderna. As transformações estruturais são lentas e controladas no Japão, mas vêm ocorrendo há décadas. De onde, portanto, viria o impulso para a retomada do crescimento?
Quem lembrar das taxas citadas no início deste artigo (40% de desvalorização cambial em 18 meses) estará perto da resposta. Máxi ou mega, o fato é que os japoneses têm sido submetidos a um processo de ajuste impressionante.
A Toyota acaba de divulgar uma recuperação nos lucros de estonteantes 280% comparados a 95, antes do pagamento de impostos. O lucro líquido aumentou 328%.
A lógica da recuperação é simples. Com o iene fraco e o dólar forte, as exportações e as operações no exterior tornam-se muito mais lucrativas para a múlti japonesa. E o iene fraco torna o carro importado mais caro, abrindo o mercado doméstico para a Toyota.
É aliás importante lembrar que a desvalorização cambial não é uma fórmula cujos benefícios para as empresas exportadoras esteja garantido. No mesmo setor industrial da Toyota, a Mitsubishi deixou a desejar porque não conseguiu reduzir custos e aumentar vendas. A Nissan não conseguiu manter um ritmo adequado de introdução de novos modelos.
Outro detalhe curioso, lembrado por Iwao Isamura, vice-presidente da Toyota: os bons resultados deveram-se também à expansão dos mercados mundiais, com exceção da América Latina.
Pode-se acusar o Japão de muita coisa, mas não de ser uma economia pouco voltada ao comércio internacional ou com nível reduzido de importações (sobretudo de matérias-primas, energia, alimentos etc.). Menos ainda de ser um país onde os riscos de repique inflacionário associados à desvalorização cambial sejam desprezíveis.
Muitas empresas japonesas, numa economia que nos últimos três anos andou próxima à estagnação, fizeram também o possível e o impossível para cortar custos. O fim dos contratos de trabalho vitalício tem soado em muitas delas.
Mas, no Japão, o governo não ficou olhando a banda passar.

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