São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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A volta de Neto

JUCA KFOURI

Você é contra ou a favor da volta de Neto ao Corinthians?
Onde quer que se vá, a pergunta é recorrente.
Como ser contra o retorno de um dos jogadores mais talentosos da história alvinegra, de um craque que, praticamente sozinho, conquistou o único título de campeão brasileiro do Corinthians?
Neto, já escrevi, está para o Corinthians de 1990 assim como Garrincha está para o Brasil bicampeão mundial na Copa do Mundo de 1962 e assim como Maradona, para a Argentina campeã mundial de 1986.
"Ah, mas não foi bem isso que você escreveu na Folha outro dia", reagem os interlocutores, com razão.
Não foi mesmo.
E às vésperas da esperada reestréia de Neto, vale repetir, até para que não se criem expectativas exageradas que acabem por condená-lo: Neto, seis anos atrás, aos 24, portanto, já não era um jogador dito moderno.
Então, Nelsinho teve a sabedoria que todo técnico com "T" maiúsculo precisa ter, a de adaptar o esquema de jogo do time ao craque, não o contrário.
Deu certo em 1990, mas o próprio Neto sabe o quanto a torcida corintiana lhe cobrava quando as coisas não iam bem.
E dele era exigido marcar, correr, se desdobrar, coisa que seu biotipo jamais lhe permitiu.
Neto, aliás, pertence àquela estirpe de craques que passam a vida lutando contra a balança.
Os corintianos um pouco mais antigos devem se lembrar de outro desse gênero, o brilhante Adãozinho que apareceu e sumiu nos anos 70, derrotado pelos quilos a mais.
Coutinho, o melhor parceiro da vida de Pelé, também teve vida curta por causa da gordura.
Por isso, é temerária a volta de Neto, apesar do esforço comovente que está fazendo para ressurgir.
Escrevi, e repito, que Neto não é nenhum Toninho Cerezo ou Júnior, jogadores que a veteranice só fez melhorar.
O que não significa que, por desses mistérios da vida, não possa vir a dar certo outra vez.
Insisto, no entanto, num ponto: sua contratação é mais sinal de desespero do que de descortino.
E seu sucesso não será, para mim, apenas uma agradável surpresa.
Será uma agradabilíssima surpresa, dessas de agradecer ao Deus dos estádios.
Por ele, antes de mais nada, e pelo Corinthians, por motivos óbvios, torço para que Neto vença.
Como sempre.
E como nunca.

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